O Aiqfome, empresa de delivery de comida comprada pelo Magazine Luiza, tornou-se a segunda maior do ramo com a saída do Uber Eats do mercado
A empresa tem foco em cidades menores e pretende continuar a “comer pelas beiradas” para ganhar mercado. Até agora, as cerca de 700 cidades atendidas, em todas as regiões do País, tinham até 200 mil habitantes.
Neste primeiro semestre de 2022, porém, a companhia mira municípios um pouco mais populosos, com 200 mil a 500 mil moradores. Até o fim do ano, o AiqFome ainda pretende testar o modelo em ao menos uma cidade de até 1 milhão de habitantes.
Diferente do modelo do iFood, a empresa tem crescimento mais lento, mas é rentável desde seu início, em 2007. O CEO e fundador, Igor Remigio, afirma não ter estômago para fazer uma série de rodadas de investimento e acumular prejuízos.
Ele conta que quando começou a colocar o negócio de pé viu que, para operar como o maior concorrente – o iFood – funciona hoje, teria de buscar investimentos altos e se manter capitalizado por muito tempo. “Teria de fazer rodada (de investimento) A, B, C… até Z. Não era para mim.
Eu queria um negócio que entrasse R$ 100, saísse R$ 80 e sobrasse R$ 20. Talvez tenha sido bom, talvez tenha sido ruim, mas eu queria ter esse gostinho, ainda mais em um mercado em que todos estavam e estão rodando com fluxo de caixa negativo”, disse ao Broadcast. Desse jeito pé no chão, Remigio criou um modelo que funciona quase como uma franquia.
O Aiqfome tem empresários locais (uma espécie de representante do aplicativo) que pagam uma taxa de licença para buscar restaurantes para a base de clientes do app e estimular o crescimento da região. É para esse contato que os restaurantes ligam, por exemplo, quando veem que seu fluxo de vendas caiu, ou quando têm algum problema com a plataforma.
O mote é: “deixa o fominha (como a empresa se refere ao usuário final) com a gente, enquanto o restaurante é atendido por um empresário que fala com o mesmo sotaque dele”. Remigio conta que em alguns municípios esses empresários já têm galpão alugado, com mais de 10 funcionários para prestar atendimento.
Em 2021, as vendas totais (GMV) da Aiqfome chegaram a R$ 1,3 bilhão, ante R$ 598 milhões em 2020, quando a companhia foi adquirida pelo Magalu. Nesse montante de vendas, estão incluídos as receitas de duas outras empresas adquiridas pelo Magazine e que ficaram sob o guarda-chuva da Aiqfome: a ToNoLucro, empresa de delivery forte no estado do Tocantins, e a Plus Delivery, relevante no Espírito Santo.
A estratégia de crescimento do Aiqfome é esta: avançar com força local antes de se aventurar em grandes centros que o iFood, maior empresa do setor, domina. Para este ano, a previsão é estar presente em 1 mil cidades, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do País.
TonoLucro
Se do lado dos restaurantes a empresa investiu em um tratamento mais próximo, típico do interior, com os entregadores, a companhia busca soluções parecidas. Por muito tempo, o Aiqfome não operava a logística de entrega para os restaurantes.
O aplicativo era apenas uma forma de conectar o usuário e quem vendia a comida. Desde o ano passado, com a compra da TonoLucro, que já trabalhava com entregadores independentes, a empresa entrou nessa frente.
A companhia tem instalado bases com local de descanso e banheiros para que os entregadores das cidades possam ficar entre as entregas, segundo Remigio. Além disso, tem buscado aceitar um número pequeno de entregadores para que eles tenham menos tempo ocioso entre um chamado e outro, o que tende a melhorar a remuneração desses profissionais, que recebem por pedido entregue.
De acordo com o fundador do Aiqfome, estar no ecossistema do Magazine Luiza traz mais oportunidades para melhorar as fontes de receita dos entregadores. Há, por exemplo, a chance de integrar esses trabalhadores às entregas de itens do próprio Magazine Luiza em momentos de ociosidade.
A concorrência no setor é ferrenha, e especialistas indicam que o modelo de negócios do iFood, líder do segmento, já atingiu um patamar em que a rentabilidade seria opção. Ou seja, se a empresa parasse de reinvestir o que ganha em crescimento, a rentabilidade viria.
Sendo assim, a escolha do AiqFome de crescer com rentabilidade fez a empresa abrir mão desse processo em que se ganha mercado rapidamente primeiro e, depois, os lucros se apresentam, já com a dominância do setor.
Tudo tem seu preço. O líder do setor enfrenta uma ação protocolada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e pelo Rappi no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) justamente por dominar o segmento. O processo deve ter desdobramentos neste ano.
Fonte: Estadão