Ação permite que passageiros da empresa portuguesa parem na cidade sem custos adicionais. Iniciativa da Abrasel prevê distribuição de guias em inglês e orientação aos empresários
A partir do mês que vem, quem sair da Europa com destino a Brasília terá aqui um ponto de parada. A proposta de stopover é inédita no Brasil e surgiu de um acordo assinado entre o Governo do Distrito Federal e a TAP. Com isso, os passageiros da empresa aérea portuguesa poderão passar até cinco noites na cidade sem custos adicionais e conhecê-la. Caso façam essa escolha, terão oportunidade de explorar uma cidade além do eixo cívico, da política e dos negócios, que oferece múltiplas experiências.
O gasto médio diário de estrangeiros que visitaram Brasília no ano passado foi de R$ 353,99, de acordo com a Secretaria de Turismo (Setur). Com a novidade da TAP, o GDF espera até 20 mil turistas estrangeiros a mais na capital ainda em 2019. No entanto, para receber essa demanda, há melhorias a fazer. O jornal Correio Braziliense percorreu diferentes pontos da cidade para fazer um raio-x sobre os problemas do setor e tentar descobrir como pessoas daqui e de fora enxergam o turismo brasiliense.
Difícil comunicação
Terceiro maior do país em movimentação internacional de passageiros, o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek é a porta de entrada dos estrangeiros em Brasília. Em relação à sinalização, o terminal deixa pouco a desejar. No entanto, ele não tem um Centro de Atendimento ao Turista (CAT) e poucas lojas contam com profissionais bilíngues.
Responsável por um restaurante na praça de alimentação, o empresário Pedro Bergamo, 40 anos, tem dois funcionários estrangeiros que o ajudam no atendimento ao cliente estrangeiro, um chefe de cozinha haitiano e um garçom peruano. “Temos cardápio em português, inglês e em braille. Não obrigamos nossa equipe a fazer cursos, mas, quando isso está no currículo deles (dos candidatos a um emprego), incentivamos. Eles devem estar preparados para o básico”, ponderou o empresário.
Diretor de assuntos corporativos do Aeroporto JK, Rogério Coimbra acredita que o acordo da TAP com o GDF vai atrair mais turistas, além de contribuir positivamente para a economia local. “Provaremos que aqui é um destino atrativo para turistas, pois tem muitos locais para passeio e uma ótima gastronomia. Teremos sucesso com esse programa, pois as pessoas funcionam com o boca a boca e promovem a cidade umas com as outras. Quanto mais gente vir, mais gostarão daqui.”
Sem diálogo
Ainda no terminal, turistas que não sabem falar português podem enfrentar dificuldades na hora de pedir um táxi. Dos motoristas disponíveis nas 31 vagas para esse tipo de serviço no terminal, quando a reportagem esteve lá, só um se comunicava em outro idioma. Claudio Feitosa, 53, taxista há 17 anos, conversou em inglês e espanhol com a reportagem. “É o meu diferencial. Conheço apenas uns três ou quatro taxistas que também falam outras línguas. Entre os outros, alguns tentam”, contou.
Para melhorar os serviços, ele conta que pretende fazer uma reunião com a categoria para orientar os profissionais a usar serviços de tradução pelo celular. “Em uma das aplicações, é possível usar o modo conversação. A ferramenta detecta a língua e a converte para o idioma-raiz”, comentou o presidente do Sinpetaxi.
Bares e restaurantes mobilizados
Os mais de 9 mil bares e restaurantes de Brasília têm adotado medidas para incentivar o turismo na capital, segundo o diretor executivo da Abrasel no Distrito Federal, Fábio Estuqui. Ele diz que, entre as iniciativas a serem tomadas até o segundo semestre, há a distribuição de um guia turístico nos hotéis. O mapa será em inglês. “Reuniremos todos os proprietários dos estabelecimentos para orientá-los sobre a entrega desses informativos”, observou.
A Abrasel no Distrito Federal não tem dados de quantos funcionários do setor falam mais de um idioma, mas reforça que orienta empresários sobre o processo de seleção. “Nosso objetivo é que haja ao menos um profissional na empresa que fale uma ou outra língua. Isso melhorará a qualidade da recepção ao turista”, frisou Estuqui.
Outro projeto em andamento é a oferta de um curso de capacitação junto ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para funcionários de bares e restaurantes. “Ainda estudamos essa medida, mas o Sebrae está empenhado. Queremos disponibilizar um curso de inglês básico mais para a frente”, acrescentou.
Ainda com a intenção de atrair turistas, a Abrasel incentiva os donos de restaurantes a oferecer pratos promocionais com ingredientes do cerrado. Descontos para estrangeiros também estão nos planos do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar). Para o presidente da entidade, Jael Antônio da Silva, o acordo com a TAP trouxe otimismo e deve alavancar o setor na capital da República.
“Faremos algumas parcerias para oferecer preços diferenciados e benefícios na rede hoteleira, em restaurantes e bares. A ideia é oferecer um diferencial para que os turistas permaneçam na cidade”, afirmou. “Queremos mudar o turismo no Brasil, e temos de começar pela nossa capital. Será uma ótima oportunidade para mostrar quem é Brasília”, ressaltou Jael Antônio.
O presidente do Sindhobar acredita serem necessários incrementos em outras áreas relacionadas ao turismo. “Esperamos que o governador melhore os CATs, a mobilidade e a atratividade de alguns pontos. É preciso que o governo se mobilize para ajudar o setor produtivo”, ressaltou. Ele acredita que a cidade está preparada para receber gente de fora, pois oferece cerca de 16 mil leitos. “Temos uma capacidade de atendimento muito importante. E a pessoa não precisa ficar restrita ao Plano Piloto. Há atrativos na região do Entorno e em cidades de Goiás para serem explorados”, completou Jael.
Fonte: Correio Braziliense. A notícia está disponível na íntegra no site.