Quem não frequenta bibliotecas e livrarias pelo prazer de mergulhar em novas histórias pode encarar o exercício da leitura como sinônimo de esforço e até de obrigação. O deleite de folhear as páginas de um livro, porém, pode ser apreciado como uma boa cerveja gelada após o fim do expediente. É isso o que escritores de Brasília propõem com a "Movida Literária". O evento, desde o ano passado, promove encontros literários em bares tradicionais da capital. O lema do projeto é sugestivo: "ler, beber e conversar".
"O happy hour é um momento em que as pessoas estão relaxadas, querendo trocar ideia, e a boemia está muito ligada à arte e à cultura", explicou o escritor Jéferson Assumção, um dos curadores do projeto. A proposta é tirar o livro das livrarias e bibliotecas e explorar lugares não convencionais para colocar o livro em posição de destaque no imaginário coletivo. "É fazer com que vejam a literatura como algo cotidiano, ligado ao lazer, ao prazer e à fruição, gerando um ambiente de cultura da leitura e não da obrigação."
Os encontros ocorrem até a próxima sexta (7) em sete bares tradicionais do Plano Piloto: Beirute (Asa Sul e Asa Norte), Pardim, Sebinho, Ernesto, Objeto Encontrado e Martinica.
A primeira rodada começa às 19h30, e a saideira é pedida às 21h30. Nas mesas, se revezam os escritores e curadores Jéferson Assumção, José Rezende Júnior e Nicolas Behr – que convida 8 poetas de Brasília, todas mulheres. Há ainda bate-papos com 14 escritores e escritoras. A lista inclui a primeira rapper do Distrito Federal, Vera Verônika, a escritora gaúcha Veronica Stigger – vencedora do Prêmio Jabuti de Literatura em 2017 na categoria "contos e crônicas" – e o membro da Academia Brasileira de Letras João Almino. Extrapolando os limites do papel, a Movida Literária promove um encontro de coletivos que trabalham com literatura em diferentes meios. Na quinta-feira, representantes do Subplano, da Feira Dente e do Coletivo Transverso trocam ideias no Objeto Encontrado, na 102 Norte.
"É muito legal fazer esse diálogo em outros suportes, porque a gente também quer fazer essa movida na própria ideia do que é literatura", disse o curador Jéferson Assumção. A intenção é criar condições para fortalecer as articulações de redes literárias de Brasília e dialogar sobre formas não convencionais de fazer literatura. Um exemplo são os lambe-lambes do Coletivo Transverso, que espalham mensagens curtas e anônimas pela cidade.
As palavras que circundam o espaço urbano estão em anúncios publicitários e placas de trânsito. A rua é um espaço de diálogo que se tornou apenas um constante ir e vir do trabalho", explicou a poeta e atriz Patrícia Del Rey. Por isso, o coletivo tenta promover um encontro de consciências através da palavra. "A pessoa está dirigindo e é pega de surpresa pelo poema. Gera um instante de desvio que a faz repensar seu lugar na cidade."
Fonte: G1