Pesquisa divulgada nesta quarta-feira (8) pela Abrasel mostra que 66% dos estabelecimentos tinham empréstimos bancários contratados em janeiro

A combinação de dívidas caras e baixo retorno está colocando o setor de alimentação fora do domicílio em trajetória “explosiva”, disse ao Valor o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci. O problema já foi levado ao conhecimento do vice-presidente, Geraldo Alckmin.
Pesquisa divulgada nesta quarta-feira (8) pela Abrasel mostra que 66% dos estabelecimentos tinham empréstimos bancários contratados em janeiro. Aqueles que tomaram crédito no Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) apresentavam taxa de inadimplência de 13%, acima da média do programa, que é de 5,2%. Fora do Pronampe, a inadimplência atinge 21% dos tomadores. A pesquisa ouviu 1.477 empresas de todo o país.
Empresas que se socorreram na primeira etapa do Pronampe contrataram financiamentos a 2% de juro e 1,25% de spread. Hoje, o custo está em 13,75%. “Quer dizer que quem tomou o empréstimo mais barato, hoje, está pagando 15%”, explicou. “E isso porque foi um empréstimo oferecido com garantia do governo.” No geral, disse, as prestações estão de 30% a 40% mais caras do que quando foram contratadas.
Com isso, os bares e restaurantes estão comprometendo, na média, 10,3% de seu faturamento para pagar dívidas. Os que comprometem mais de 20% são 9%. A rentabilidade média dos restaurantes é de 10%.
À dívida mais cara, soma-se o desempenho de um setor ainda não totalmente recuperado da pandemia. A pesquisa constatou que 23% dos bares e restaurantes registraram prejuízo em janeiro, o que representa um avanço de 4 pontos percentuais em relação ao resultado de dezembro. Outros 34% não tiveram lucro nem prejuízo e 43% tiveram lucro, queda de 4 pontos em relação à pesquisa anterior. “Quer dizer que metade do setor está operando sem lucro”, afirmou Solmucci.
Com a pressão crescente das dívidas, os estabelecimentos estão atrasando o pagamento de tributos. Segundo o presidente da Abrasel, é o item de despesa em que a falta de pagamento leva algum tempo para gerar consequências que afetem o funcionamento da empresa. “Mas uma hora a conta chega”, afirmou. “É uma situação desesperadora e desestruturante do setor.”
Alongamento dos prazos dos empréstimos
Solmucci avaliou que a crise dos bares e restaurantes exigirá um conjunto de medidas. Uma delas é o alongamento dos prazos dos empréstimos. Ele comentou que, em vários países, o setor recebeu ajuda governamental a fundo perdido durante a pandemia.
Outra seria sua inclusão no Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), que suspendeu a cobrança de tributos durante cinco anos. Bares e restaurantes haviam sido incluídos no programa, informou. No entanto, nos últimos dias do governo de Jair Bolsonaro foram excluídos da desoneração para abrir espaço para uma ajuda ao setor aéreo.
“Foi uma miopia”, disse. A Medida Provisória (MP) 1.147, que fez essa alteração, ainda não foi votada pelo Congresso Nacional. Se não apreciada, deixará de vigorar em abril.
Outra medida seria a desoneração da folha. O setor de bares e restaurantes é, segundo o presidente da Abrasel, o maior empregador do país, com 6 milhões de trabalhadores. Ele pretende levar o tema ao ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que esta semana defendeu urgência na discussão desse tema.
Fonte: Valor