Às vésperas das comemorações de fim de ano, época tradicionalmente lucrativa para bufês, a previsão é de vacas bem magras, informa o Sindicato Intermunicipal das Empresas de Bufê de Minas Gerais (Sindibufê). Atravessar o momento difícil, avisa a entidade, é façanha para quem tempera os negócios com bastante criatividade. Segundo o presidente do Sindibufê, João Teixeira, o maior baque do setor tem sido registrado na seara dos eventos corporativos. A demanda pelo serviço caiu 50% entre 2017 e este ano. A queda no volume de contratos assinados por pessoas físicas no mesmo período foi menor, mas chega a 30%. Houve ainda significativa redução no valor médio dos orçamentos fechados. Segundo Teixeira, os festeiros deste ano estão dispostos a gastar de 15% a 25% menos que os de 2017.
O cenário atual contrasta com aquele desenhado pelos números de 2015, quando o sindicato registrou 500% de crescimento do mercado mineiro de eventos nos 12 anos anteriores. João Teixeira situa a expressiva queda na procura pelos bufês partir de 2016, sobretudo em função da instabilidade política e econômica que marcou o país nos últimos anos. Para o dirigente, tal conjuntura reduziu a confiança da clientela – principalmente a corporativa – no mercado. "Diante da incerteza sobre o futuro, muitas empresas decidiram suspender os gastos com festas ou reduzi-los drasticamente. Após as eleições de outubro, chegamos a fazer projeções mais otimistas para este fim de ano, como base em fatores como a estabilização momentânea do câmbio e a alta da bolsa. Mas elas não se concretizaram". comenta.
O presidente do Sindibufê aponta o crescimento da informalidade na área dos empreendimentos festivos como outro fator responsável pela crise. Com menos recursos disponíveis para as celebrações, parte da clientela teria optado por estabelecimentos e serviços marginais. “É uma concorrência desleal, pois essas empresas não registram seus empregados, não emitem nota fiscal. Ou seja: não arcam com os custos da burocracia e dos impostos, portanto podem oferecer preços que, para nós, são impraticáveis. Esses negócios também não passam pelo crivo da vigilância sanitária, o que pode comprometer a saúde do consumidor. Driblar tantos obstáculos impostos pela crise tem exigido de nós muita inventividade”, observa o líder da instituição sindical, que reúne cerca de 36 associados.
Baile da sobrevivência
Dançar conforme a música da recessão é atividade que Cica Almeida tem praticado há algum tempo. A gerente da agência de marketing e promoções de eventos Work Events relata que, há pouco mais de uma semana, precisou modificar planos feitos para um coffee break, já aprovado por um cliente, em decorrência de restrições orçamentárias comunicadas dias antes da data de realização da festa. “Todos os detalhes estavam acertados com um bufê – comes, bebes, decoração, o pacote inteiro. Até que recebi uma ligação do meu contratante dizendo que o orçamento previamente aprovado para o evento, que visava o cultivo do relacionamento com seus parceiros, teria que ser reduzido em 25% A justificativa que deram foi de que a clínica teve um retorno financeiro aquém do esperado nos últimos meses e, por isso, daria uma enxugada nos gastos”, explica a profissional.
O coffee break acabou se transformando em coquetel, promovido por outro estabelecimento disposto a oferecer soluções criativas a preços mais módicos. “Considero que, no fim das contas, fizemos bom negócio. Encontramos uma empresa nova no mercado, especializada em coxinhas gourmet. Conseguimos economizar e, ao mesmo tempo, surpreender os convidados, que puderam degustar coxinhas de sabores inusitados, como queijo brie com molho de tangerina”, pondera a empresária.
Festas em domicílio
A inovação é uma das principais apostas contra a crise do Rullus Buffet, empreendimento festivo que atua em Minas desde os anos 1970. Segundo o dono da casa, Túlio Pires, a cartela de serviços oferecidos se modificou para atender as necessidades da freguesia. Exemplo disso está na oferta de formatos intimistas, que podem ser executados dentro residência do cliente e dispensam o aluguel de salões. Os chefs também têm se esmerado em suas criações gastronômicas. A ideia é oferecer aos anfitriões pratos acessíveis, sem prejuízo à sofisticação. "Procuramos reinventar nossa cozinha elaborando pratos feitos a partir de ingredientes mais baratos, mas que não deixam a desejar no requinte. O lado bom disso tudo é que, com o tempo, a gente se acomoda. As dificuldades nos obrigaram a intensificar nosso empenho para encantar a clientela", avalia Túlio Pires.
As estratégias adotadas, contudo, não conseguiram evitar reveses como a dispensa de funcionários.Voltado a eventos de menor porte, o Bufê Berenice Guimarães brinda algo raro para o atual contexto econômico: um ano de poucos prejuízos e agenda preenchida até fevereiro de 2019. A proeza, no entanto, exigiu algumas concessões a favor do bolso do consumidor. “Para além das adaptações de cardápio e outras inventividades, nós atendemos a muitos ‘choros’. Demos descontos, flexibilizamos prazos para pagamentos e concedemos parcelamentos mais acessíveis. Valeu a pena”, comemora Fernanda Quinan. Ela e a mãe tocam o Berenice Guimarães há cerca de 30 anos.
Fonte: Estado de Minas