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Governos devem reparos financeiros pelo estrago das quarentenas

Sem mais postergações, precisamos refundar o Brasil. Para tanto, temos de nos espelhar, pelo menos um pouco, no exemplo das nações que melhor geriram a pandemia. Tomemos como referência bem ilustrativa o que se passou nas duas das maiores megalópoles do mundo, São Paulo e Tóquio. Enquanto o governador paulista baixava determinações de cima para baixo, bem no jeito de ser das autoridades brasileiras, a governadora de Tóquio não impunha nada, bem no jeito japonês de ser.

No Japão, o protocolo não é transmitido com ordem. Tem o sentido de apelo. E mais: a Constituição nacional impede que autoridades fechem o comércio ou as fábricas. As conclamações em prol do bem comum, proferidas por lideranças locais, estaduais ou nacionais, são espontaneamente acatadas por jovens, adultos, homens e mulheres de qualquer idade ou classe social.

A desobediência ao que foi recomendado não implica qualquer sanção aos japoneses. A punição é apenas moral. A inobservância ao que as autoridades exortaram geralmente provoca neles constrangedora vergonha. Quando a gente se lembra dos rituais brasileiros de anúncio dos protocolos, e os confrontamos com o estilo japonês, constatamos nosso imenso atraso. Em dezembro, a governadora de Tóquio solicitou aos donos e fregueses do bares e restaurantes para que encerrassem o atendimento às 21horas. Yuriko Koike lamentou ter que pedir “mais encargos” aos já muito sobrecarregados empreendedores.

Constrangida, ela procurou emitir um sinal de solidariedade. Disse que os empreendedores receberiam, em função do corte de horário, a compensação mensal de US$ 5.760. Garantiu que, durante os feriados de fim de ano, a reparação financeira seria duplicada. A soma de semelhantes apoios governamentais à sobrevivência dos negócios faz parte do pacote japonês de sustentação econômica e de fortalecimento da estrutura de saúde. O montante do pacote nacional é de equivalentes US$ 1,1 trilhão.

Quando se trata de atender aos desesperados gritos de socorro dos donos de bares e restaurantes que tiveram seus negócios fechados, como consequência de um desses sádicos cerimoniais de anúncio dos protocolos, os nossos governantes acham que estão fazendo grande favor ao parcelarem os débitos de impostos ou ao providenciarem um empréstimo com taxas de juros “bem reduzidas” e “bons prazos de carência”.

O sujeito está com as portas do seu estabelecimento lacradas. E ainda se cobra o IPTU de um imóvel alugado, que o poder público proibiu de ser utilizado. Como o empreendedor pagará esse e outros passivos (que se acumulam dia a dia), se ele está sem gerar receita? E como se não bastasse esse festival de insanidades, o excelentíssimo ainda aumenta em 90% os impostos dos alimentos já tão exíguos nas mesas da nossa brava e sofrida gente brasileira. Conclusão. Precisamos refundar o Brasil com pessoas que tenham um mínimo de empatia, que não sejam tão narcísicas e indiferentes à dor alheia.

Paulo Solmucci é presidente-executivo da Abrasel

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