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Em meio à crescente dificuldade de encontrar mão de obra qualificada no setor de bares e restaurantes, empreendedores enfrentam o desafio de se adaptar às novas expectativas dos candidatos

Por Duda Gomes

Um processo seletivo atrativo aumenta as chances de o candidato aceitar a oferta da vaga e construir uma relação duradoura na empresa. Foto: Midjourney

Ao precisar contratar novos funcionários, o empreendedor do setor de bares e restaurantes elabora um processo seletivo muitas vezes rápido e direto. Diante de uma necessidade, o dono do estabelecimento coloca um anúncio em redes sociais ou espalha a notícia em grupos de WhatsApp.

Currículos começam a chegar, mas a quantidade não impressiona, e a qualidade, muitas vezes, preocupa. Esse é o panorama que a maioria dos empreendedores do ramo vivencia em seu estabelecimento.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Abrasel em julho de 2024, cerca de 89% dos empresários consideram difícil ou muito difícil preencher as vagas em aberto com candidatos preparados. A pesquisa ainda revela que, entre os cargos com mais dificuldade em preencher, sushiman e churrasqueiro lideram, com 94% dos empresários relatando dificuldades para encontrar profissionais qualificados.

Cozinheiros chefes (93%), gerentes (90%) e cozinheiros (88%) também estão entre as posições que mais desafiam os empregadores. Além disso, 25% dos empresários lidam com a baixa quantidade de interessados nas vagas oferecidas. Nesse sentido, para entender a situação atual, é importante dar um passo para trás e analisar o mercado brasileiro.

Paradoxo do emprego

De acordo com a última PNAD Continua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a taxa de desemprego entre os meses de maio e julho de 2024 foi de 6,8% - o menor número da série histórica para o período, coletada desde 2012.

Assim, a relação entre a baixa taxa de desemprego e a dificuldade de achar funcionários preparados em bares e restaurantes está ligada a uma combinação de fatores que vão além do simples número de pessoas empregadas ou desempregadas no mercado.

Em um cenário de baixo desemprego, a oferta de mão de obra disponível no mercado diminui. Com mais pessoas empregadas, há menos trabalhadores buscando novas oportunidades, o que gera uma concorrência maior entre os empregadores para atrair esses profissionais. Com mais opções de emprego disponíveis, os trabalhadores se tornam mais seletivos.

Muitos preferem posições que oferecem um ambiente de trabalho que não possui as características específicas presentes no setor de bares e restaurantes, como os horários de jornada de trabalho e média salarial.

Esses fatores criam um paradoxo: apesar da melhora nos números de emprego no país, o setor de bares e restaurantes continua enfrentando desafios para encontrar e reter profissionais qualificados.

A realidade da contratação

A situação enfrentada por empreendedores como Raniele Teixeira, proprietária do restaurante Brasa e Fogão, na Reserva Boa Luz, em Sergipe (SE), é um exemplo claro dos desafios na contratação de mão de obra no setor. Dona de um empreendimento pertencente a um complexo de lazer, a empreendedora relata que enfrenta uma dificuldade maior do que o esperado na contratação.

“Na verdade, estamos localizados em um complexo de lazer, a Reserva Boa Luz, que fica na BR 235. Por estarmos mais distantes da cidade, a contratação se torna mais complicada, tanto pela localização quanto pelas questões de transporte e acesso”, destaca a empreendedora.

O modelo de funcionamento do empreendimento de Raniele também é considerado pela empreendedora um ponto de atenção quando o assunto é a atração dos candidatos. Por estar localizado em uma região turística, o restaurante Brasa e Fogão funciona todos os dias da semana.

“Meu restaurante funciona sem folgas, nem em feriados. Sempre temos que atender os hóspedes e o restaurante está sempre em operação. Isso acaba sendo uma das nossas maiores dificuldades”, relata a empreendedora.

O desafio de contratação é reforçado pelo CEO da MAPA Assessoria, Marco Amatti, que enxerga o setor de bares e restaurantes como um dos mais desafiadores em termos de admissão. Amatti afirma que, em tempos de baixo desemprego, como o atual, a concorrência por profissionais qualificados se intensifica.

“O setor de bares e restaurantes precisa se adaptar a essa nova realidade, criando condições que atraiam e retenham esses profissionais, como salários mais competitivos, benefícios e um ambiente de trabalho mais flexível”, conclui.

Esse é o caminho traçado pelo restaurateur Ezio Librizzi. O empreendedor possui quatro empresas no ramo de alimentação, em Florianópolis (SC). Ao todo, em seus restaurantes, a equipe possui mais de 90 funcionários. Librizzi encontrou um percurso para driblar a dificuldade de contratação no setor: a oferta de um salário atrativo e benefícios bem estruturados em sua cultura organizacional.

“Eu consigo reter pessoas porque os salários são atrativos. Não adianta dar muito apoio psicológico e não pagar bons salários. Além disso, em nossos restaurantes oferecemos uma série de benefícios para os funcionários que vão além desse salário competitivo”, relata o restaurateur.

O empreendedor ainda afirma que esse comportamento gera um “efeito cascata” em relação à atração de novos funcionários. O ambiente favorável que Ezio construiu em seus empreendimentos facilita seus processos seletivos, já que sua equipe indica candidatos para as vagas em aberto.

“Na maioria das vezes, são os próprios colaboradores que trazem novas indicações, o que indica que estão falando bem da empresa fora daqui e outras pessoas se interessam em fazer parte do time. Isso mostra que o ambiente é atrativo”, conta Librizzi. Além disso, o empreendedor afirma que, em seu processo seletivo, ele opta por formar os colaboradores internamente, o que permite moldá-los à cultura da empresa.

“Esse processo de formação e assistência nos dá tempo para observar e analisar bem o perfil do funcionário antes de tomar qualquer decisão de longo prazo. Não precisamos de uma agência de recrutamento para contratar um garçom, um bom chef, cozinheiro ou ajudante de cozinha. Basta olhar nos olhos, entender sua vontade, as necessidades de sua família e verificar se ele realmente quer trabalhar”, ressalta o empreendedor.

O comportamento de Ezio se assemelha ao de Lucas Uchoa, sócio-proprietário da hamburgueria Sinner, em Macapá (AP). Segundo o empreendedor, a estratégia principal está na construção de uma cultura organizacional forte e acolhedora.

“Eu percebi que, em um mercado tão competitivo, a cultura da empresa se torna o diferencial na contratação de funcionários. Aqui criamos um ambiente autêntico, mas com um código de conduta bem definido para garantir o profissionalismo. A ideia é que, mesmo em um setor tão exigente, os funcionários sintam que têm apoio e espaço para crescer”, conta Lucas.

Ainda, o empreendedor prefere contratar pessoas sem experiência prévia no setor para treiná-las de acordo com os valores e a cultura da hamburgueria. A estratégia adotada por Ezio e Lucas tem gerado bons resultados, pois os colaboradores acabam criando uma conexão maior com o ambiente e a cultura do negócio.

*Texto adaptado da edição 159 da revista B&R

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