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A passagem de empreendimentos no setor de alimentação fora do lar no Brasil de pais para filhos é além de um mecanismo de desenvolvimento econômico também social

Por Carolina Cerqueira

O empreendimento que começou em 1950, por Maria Clara Rodrigues está passando para sua quarta geração, com as filhas do autal gestor, Ricardo Rodrigues. Foto: Instagram Maria das Tranças

Existe uma tendência que se destaca no cenário do empreendedorismo no Brasil: a passagem de empreendimentos de pais para filhos, especialmente no setor de alimentação fora do lar. Este fenômeno não apenas preserva tradições culinárias, mas também se mostra como um importante vetor de mobilidade social e econômica para muitas famílias.

De acordo com dados do Sebrae, cerca de 90% das empresas no Brasil são familiares, e no setor de alimentação, essa porcentagem chega a 95%. Esses números refletem uma característica cultural enraizada no cenário empresarial brasileiro.

A continuidade dos negócios familiares vai além da preservação de tradições. Um estudo da Fundação Dom Cabral revela que empresas familiares desenvolvem uma visão de longo prazo mais sólida e uma cultura organizacional forte e coesa, traduzindo-se em maior resiliência e capacidade de adaptação às mudanças do mercado.

Um exemplo é o restaurante Maria das Tranças, em Belo Horizonte, fundado por Maria Clara Rodrigues em 1950. Visando o sustento da família, o restaurante rapidamente passou a ganhar destaque com hábitos simples, mas com pratos que encantavam os clientes, como o frango ao molho pardo, que é servido até os dias de hoje.

Com o decorrer dos anos, o restaurante passou por mudanças de liderança, passando a ser gerido pelo pai do atual proprietário em 1958. Hoje, quem está à frente dos negócios é Ricardo Rodrigues.

Ricardo conta que começou a trabalhar no local aos 9 anos, ajudando sua avó em pequenas tarefas da cozinha, mas assumiu a operação de fato após o falecimento dela em 1987.

Superar os desafios, sejam eles decorrentes das mudanças temporais, dos hábitos de consumo dos clientes ou das novas tecnologias presentes no mercado é essencial para que os empreendimentos continuem atrativos no dinâmico mercado do setor.

Ricardo tem liderado reformas e melhorias desde que assumiu na gestão, mas mantendo a essência do negócio. A combinação de inovação e tradição permite enfrentar desafios econômicos sem comprometer os princípios transmitidos ao longo das gerações.

“Sempre colocamos na mesa do cliente o que minha avó me ensinou: um produto de qualidade, feito com carinho e respeito, utilizando os melhores ingredientes”, diz Ricardo.

Estudos do Sebrae mostram que a sobrevivência de empresas familiares diminui ao longo das gerações: 30% das empresas sobrevivem da primeira para a segunda geração, 20% da segunda para a terceira e menos de 10% da terceira para a quarta.

Assim, mesclar tradição e inovação requer planejamento eficiente e profissionalização da gestão. À medida que os negócios crescem e o mercado se torna mais competitivo, a gestão puramente intuitiva pode ser insuficiente.

A transição para a quarta geração no restaurante Maria das Tranças está em andamento, como conta Rodrigo, com as filhas assumindo gradualmente mais responsabilidades na gestão do restaurante. Esse processo de sucessão tem sido planejado e desenvolvido ao longo dos anos.

“Hoje, minhas filhas trabalham comigo. É interessante notar a continuidade: minha avó cuidava da cozinha, meu pai da administração. Quando entrei no negócio, trabalhei com ambos, e agora, com minhas filhas, essa tradição se mantém viva”.

Mesmo com as idas e vindas de colaboradores e membros familiares, uma coisa é evidente: a união e o ambiente familiar ajudam a sustentar os negócios e proporcionar a todos oportunidades de crescimento, tanto na esfera profissional quanto pessoal.

A passagem de empreendimentos no setor de alimentação fora do lar no Brasil representa muito mais do que uma simples tradição. É um mecanismo de desenvolvimento econômico e social que preserva o rico patrimônio culinário do país enquanto impulsiona a inovação e o crescimento.

Ao equilibrar costumes tradicionais com inovações, essas famílias não apenas preservam um legado, mas constroem um futuro promissor, contribuindo significativamente para a economia e a cultura gastronômica do Brasil.

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