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Ivanda Braga, líder do novo núcleo da Abrasel na Comunidade do Dendê, conta sua trajetória como confeiteira na periferia de Fortaleza

Por Guilherme Paixão

IvandaCake, que atende a região da Comunidade do Dendê, em Fortaleza, já tem sete anos de história.

As favelas brasileiras têm apresentado um crescimento significativo no empreendedorismo local, com um aumento expressivo na renda própria dos moradores dessas comunidades. De acordo com dados do Data Favela, a renda própria dos moradores de comunidades no Brasil alcançou R$ 202 bilhões em 2022, um acréscimo de R$ 12,6 bilhões em relação ao ano anterior.

Outro ponto a se destacar é que a mesma pesquisa, que foi apresentada durante a Expo Favela Innovation 2023, revela que 35% dos entrevistados tem o sonho de abrir seu próprio negócio, sendo um total de 6 milhões de pessoas. Além disso, a maioria dos entrevistados que afirma a vontade de abrir um negócio (cerca de sete em cada dez), diz que o interesse é abrir um empreendimento dentro da própria periferia.

Esses números indicam um potencial para o desenvolvimento de um ecossistema empreendedor local, capaz de gerar empregos e estimular o crescimento econômico. E foi nesse contexto que Ivanda Braga, líder do novo núcleo da Abrasel na Comunidade do Dendê, em Fortaleza, decidiu trocar sua atividade como cabeleireira e ser uma empreendedora do setor de alimentação fora do lar na capital cearense.

Segundo os números do Data Favela, o ramo de restaurantes e venda de refeições é o mais comum dentro das periferias brasileiras, com 15% dos negócios totais das regiões.

Ivanda diz ter começado a atuar como confeiteira de bolos por acaso. Ela, que é assídua em sua igreja, começou a fazer bolos para eventos relacionados à instituição. Segundo ela, “com bolos que eram gostosos, mas com uma estética que ainda deixava a desejar”. Assim foi até que vieram os primeiros pedidos de bolos para festas.

Ali, ela tomou a decisão de investir no setor de alimentação. Vendeu todos os seus equipamentos de salão de beleza e foi se especializar em confeitaria. No início, ainda não tinha nem os equipamentos necessários, utilizava emprestado de conhecidos. E foi fazendo bolo para as pessoas próximas que nasceu o IvandaCake, que hoje já tem sete anos de história.

Desafios e oportunidades de empreender na favela

Moradora do Dendê há 47 anos, Ivanda conhece todo o contexto da região como a palma da mão. Ao abrir um negócio em seu bairro, ela já tinha noção do que iria enfrentar. E inclusive ela já revela uma melhora no panorama da região para sua empresa. “Quando comecei, não tínhamos fornecedores dentro da nossa comunidade, era obrigada a ir ao Centro, que fica em torno de 12km, e assim eu perdia muito tempo. Hoje já temos como comprar os produtos por aqui”, informa Ivanda.

Outro ponto positivo, segundo ela, é que existe um público muito grande dentro da comunidade. A demanda de clientes, que são muito engajados ao empreendedorismo dentro da favela, é enorme. Além disso, outra vantagem para ela empreender dentro da Comunidade do Dendê foi o fato de poder trabalhar em casa, sem a necessidade de pagar um outro aluguel.

Em contraponto a isso, existe um grande preconceito por parte de fornecedores com empreendimentos mais simples. Segundo Ivanda, já deixou de conseguir vender sorvetes em seu estabelecimento porque seu local não foi aceito ao enviar as fotos para o fornecedor. De acordo com a resposta dada pela empresa, o ponto não cumpria os requisitos necessários.

Até por isso, ela só conseguiu um freezer para vender sorvetes apenas nos últimos meses. “Caso eu tivesse um freezer e quisesse vender os sorvetes da marca deles, segundo eles não teria nenhum problema. Entretanto, estampar a marca deles no freezer, dentro do meu estabelecimento, a resposta deles foi negativa”, revela Ivanda.

Mesmo que hoje já existam fornecedores dentro do bairro Edson Queiroz, onde fica localizada a Comunidade do Dendê, os valores são muito mais altos do que na região central da cidade. Dessa forma, Ivanda fica em um dilema de menor preço ou mais praticidade. De acordo com ela, para valer a pena comprar em seu bairro, é necessário que seja em grande quantidade.

Outro empecilho encontrado por Ivanda é a questão da violência. De acordo com um levantamento anual realizado pela ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal, Fortaleza é a 31ª cidade mais violenta do mundo atualmente. A partir disso, em muitos momentos algumas pessoas não querem adentrar a favela para buscar o bolo e marcam outros pontos de encontro fora do Dendê, como por exemplo na Universidade de Fortaleza.

Mudanças com o empreender

Antes do IvandaCake, os moradores da Comunidade do Dendê relatavam muitos problemas, principalmente quando tinham festas de aniversário e tinham que transportar o bolo. “No início, muitos compravam comigo por ser muito mais fácil. O bolo é um produto muito delicado para levar de carro em grandes distâncias. Hoje, dependendo do bolo, eu até vou na casa da pessoa para terminar de montá-lo”, diz Ivanda.

Hoje, o IvandaCake mudou a vida da família da proprietária. Além dela, que é a empresária à frente do negócio, a filha atua como designer na empresa. Faz todas as artes para bolos que são vendidos. E os planos não param por aí. O foco agora é aumentar o número de funcionários no empreendimento.

Núcleo da Abrasel no Dendê

Como líder do primeiro núcleo da Abrasel em favelas, Ivanda espera que a novidade possa agregar valores, abrir portas, criar oportunidades e expandir os negócios na comunidade. “É um desafio muito grande, mas que tenho convicção que trará muitos benefícios para a Comunidade do Dendê como um todo”, destaca. A primeira reunião preparatória foi realizada no dia 18 de abril.

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