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A reconstrução é parte de um processo que também envolve repensar o meio urbano frente o desequilíbrio climático. Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil

Das 461 cidades gaúchas, a maioria teve seus bairros engolidos pelas águas das enchentes. As escolas que sobreviveram às inundações transformaram-se em abrigos para as famílias mais afetadas. Esses emergenciais centros de acolhimento despontaram-se como refúgios seguros às vítimas do dilúvio. As escolas improvisaram dormitórios e refeitórios. Criaram brinquedotecas para as crianças e atendimento médico/psicológico aos acolhidos.

Os bares e restaurantes não escaparam dos alagamentos e seus efeitos. Ainda nos primeiros dias da tragédia, a Abrasel fez um levantamento, ouvindo mais de 400 empresários locais. A devastação do setor já se mostrava enorme. Um terço dos estabelecimentos estavam completamente isolados, com 76% sem água nas torneiras e 56% sem energia elétrica.

Os que conseguiam operar de algum modo se puseram a ajudar as equipes de resgate de pessoas - não foram poucos os relatos de restaurantes preparando marmitas para equipes e pessoas deslocadas. Mas já voltaremos a isso, antes vale examinar o que nos trouxe à tragédia.

Qual foi de fato a causa da tragédia desses alagamentos em larga escala? Foram, sem entrar em questões urbanísticas, as chuvas que desabaram dos céus, qual um dilúvio. Repetiu-se, em escala muito maior, um fenômeno semelhante ao acontecido há 83 anos, isto é em 1941.

Os cientistas têm apontado como causa principal o aquecimento global, que vem historicamente se dando com a crescente emissão de CO², desde a primeira etapa da Revolução Industrial, em 1760, com as máquinas movidas a vapor.

Em sua edição de 9 de maio, o jornal O GLOBO informou que 2,3 milhões de pessoas estão afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. A conclusão unânime dos cientistas é a de que tal tragédia ocorreu, inequivocamente, em função do desequilíbrio climático. Ou seja, o aquecimento global provoca fenômenos como ondas de calor, inundações, secas, tempestades de furacões, de tufões e de ciclones.

Com o auxílio da Inteligência Artificial, facilmente identifica-se que, nos últimos anos, os eventos climáticos extremos se tornaram cada vez mais frequentes e intensos em diversas regiões do mundo.

Em 2022, a Europa viveu as ondas de calor mais intensas da história. Ocorreram incêndios florestais em diversos países, entre eles Portugal, Espanha, França e Itália. No ano anterior, tal fenômeno aconteceu na América do Norte, com incêndios florestais de grande escala no Canadá e nos Estados Unidos.

Segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), todas as cidades do mundo somam um total equivalente a apenas 3% da superfície terrestre. Porém, esses 3% da soma dos territórios das cidades são responsáveis pela emissão de 70% do CO² global, isto é, de todo dióxido de carbono.

Os veículos automotivos são uma das principais fontes de emissão de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera, contribuindo significativamente para o aquecimento global e suas consequências, como a mudança climática, a acidificação dos oceanos e o aumento do nível do mar.

Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, no dia 20 de maio foi o entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, ancorado pela jornalista Vera Magalhães. A entrevista ocorreu no Theatro São Pedro, em Porto Alegre.

Já no início de sua fala, ele deu ênfase ao impacto que as ações humanas têm nas mudanças climáticas globais. Dizendo que o “mundo não respeita as fronteiras do papel”, o governador já de início falou da combinação dos fenômenos que provocaram o dilúvio gaúcho.

Conforme narrou Eduardo Leite, o Estado sofreu as consequências que vêm de uma convergência de fatores, como o desmatamento da Amazônia, o aquecimento das águas do Oceano Pacífico (ocasionado pelo fenômeno denominado El Niño) e os bloqueios atmosféricos que ocorrem nas regiões brasileiras do Sudeste e Centro-Oeste. “Isso faz com que toda essa umidade se concentre aqui (na região do Rio Grande do Sul). Nós estamos inseridos nesse grande ecossistema”.

Uma das várias medidas com vistas a se diminuir o desequilíbrio ambiental do planeta é a redução dos deslocamentos diários das populações urbanas por meio de carros e motocicletas. A essa providência somam-se a proteção das florestas nacionais e a disseminação, nas áreas urbanas, de parques e praças com áreas verdes.

A Abrasel já vem, há dez anos difundindo em seus eventos o conceito das “cidades da proximidade”, isto é, as que adotam ações urbanísticas para que as moradias estejam próximas aos locais de trabalho, aos bares e restaurantes, às lojas comerciais, às escolas, agências bancárias e casas lotéricas, aos postos de atendimento à saúde.

Assim há estímulo natural à mobilidade ativa do caminhar e do pedalar das bicicletas, sem que se necessite do uso do carro, contribui para a imediata sociabilidade entre vizinhos e para a saúde geral da população. Este é um tema que precisa pautar as eleições municipais em outubro, portanto daqui a cinco meses.

Mas, de volta à questão dos nossos irmãos gaúchos, nosso horizonte é ao mesmo tempo mais curto e mais longo. Mais curto na medida em que precisamos ser rápidos, criando de modo tempestivo maneiras para que os estabelecimentos possam manter as portas abertas, salvando empregos e empreendimentos que são resultados de anos de trabalho duro dos seus proprietários. Para a Abrasel, o trabalho começou já nos primeiros dias das cheias e vai continuar, com foco e afinco.

Mas também precisamos pensar mais à frente, cientes de que o processo de reconstrução deve ser longo. Já estamos preparados para manter esse trabalho nos próximos dois anos, que é o tempo mínimo, segundo nossa estimativa, para garantir que as empresas voltem a operar e a ter movimento capaz de trazer sustentabilidade financeira.

E também já trabalhamos em uma plataforma para que o acompanhamento da situação dos estabelecimentos seja feito de perto, pois cada empresa tem um perfil diverso e foi atingida de modo diferente.

Dentro da mesma cidade, como Porto Alegre, há estabelecimentos que perderam tudo, como alguns que não foram afetados pela cheia, mas vão precisar reconquistar faturamento e cobrir os prejuízos. Estaremos sempre por perto e agindo de modo coordenado e eficiente em cada etapa desta jornada de reconstrução e recuperação do Rio Grande do Sul.

*Publicado originalmente na edição 157 da Bares&Restaurantes

*Paulo Solmucci é presidente-executivo da Abrasel.

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