Segundo Paulo Solmucci, presidente nacional da Abrasel, o movimento em bares e restaurantes está melhorando mesmo com as dificuldades econômicas no início do ano
Passados dois anos do início da pandemia da Covid-19 no Brasil e do avanço da vacinação que permitiu a volta ao trabalho presencial, os restaurantes brasileiros ainda observam o lento retorno de clientes às mesas do dia a dia.
É o que revela a nova pesquisa setorial da Galunion Consultoria em Foodservice, realizada em fevereiro com cerca de 1,1 mil pessoas de todo o país, que apontou que 60% dos que voltarão ao trabalho presencial pretendem levar comida de casa para o almoço.
Já a pretensão de sentar no restaurante do dia a dia é de apenas 30% dos entrevistados, e 33% pretendem pedir pelo delivery para almoçar no trabalho mesmo. O comportamento é visto também entre os brasileiros que continuam trabalhando remotamente ou no sistema híbrido, indo ao escritório apenas alguns dias da semana.
Para estes, a preferência pelo almoço feito em casa representa 78% da amostragem, seguida pelo delivery com 48%. É a confirmação de algo que as entidades representativas do setor já vêm prevendo desde o ano passado: a inflação dos alimentos, dos combustíveis e demais tarifas obrigatórias minou o poder de compra dos brasileiros.
Simone Galante, CEO da consultoria, explica que o setor de restaurantes ainda será fortemente impactado pela pandemia mesmo com o fim das restrições, inclusive do uso de máscaras em ambientes abertos e fechados – como vêm ocorrendo em algumas cidades do país.
“Somado aos resultados que mostram que os consumidores pretendem manter ou reduzir gastos com alimentação fora do lar, [isso] demonstra como a pandemia e o aumento dos preços dos alimentos no Brasil impactou de forma direta o segmento de food service”, explica.
E não para por aí: um estudo recente da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) aponta que a inflação dos alimentos chegou a 12,67% no acumulado de 12 meses até fevereiro deste ano. O índice superou os 10,54% da chamada “inflação oficial” apurada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mesmo período.
Contas em alta, recuperação em baixa
O mais recente anúncio de reajuste dos combustíveis feito pela Petrobras e o consequente aumento do preço médio do botijão de gás preocupam ainda mais os donos de restaurantes. Empresários disseram reservadamente ao Bom Gourmet Negócios que devem aumentar o preço dos pratos, mas ainda sem previsão de quando e quanto – há o temor de perder ainda mais clientes.
Para Estevan Aguiar Fara, especialista em desenvolvimento mercadológico e fundador do Food Complex, em Porto Alegre, os preços de toda a cadeia do food service estão aumentando tão rapidamente que os reajustes precisarão ser quase que diários para compensar as perdas.
“Os produtos-chave tiveram um aumento de 13% na última semana, é impossível os negócios do setor não aumentarem os preços. A margem já está bastante comprometida também com as altas taxas cobradas pelas vendas [no caso do delivery]”, analisa.
O temor de aumentar ou não os preços dos cardápios tem a sua razão, já que consumidores de todas as classes sociais pretendem segurar ou reduzir os gastos com a alimentação fora do lar. A pesquisa setorial da Galunion apontou a intensão para 56% dos entrevistados da classe C, 41% da classe B e 34% da classe A.
“É nítido o posicionamento dos consumidores da classe C, que tem uma tendência maior em optar pela redução dos gastos, já que eles também têm os menores índices sobre planos para aumentar os gastos com alimentação fora do lar, com apenas 6%, ante os 12% da classe B e os 17% da classe A”, revela Nathália Royo, especialista em inteligência de mercado na Galunion.
Volta aos restaurantes
Por outro lado, a intenção de retornar aos restaurantes em outros momentos do dia também vem crescendo gradativamente entre os brasileiros com a queda na contaminação pela Covid-19 no país. De acordo com a pesquisa da Galunion, 46% dos entrevistados já se sentem mais dispostos a comer em bares e restaurantes – 16 pontos porcentuais acima do levantamento anterior.
Além disso, caiu de 44% para 37% os clientes que têm evitado comer em bares e restaurantes, assim como houve uma queda de 26% para 17% daqueles que não se sentem confortáveis em comer em bares e restaurantes no momento. Isso evidencia uma importante retomada do setor e uma mudança nos hábitos dos consumidores.
Para Paulo Solmucci, presidente nacional da Abrasel, parte da pesquisa comprova o que a própria entidade tem apurado com os associados, de que o movimento está melhorando aos poucos mesmo com as dificuldades econômicas deste começo de ano.
“Os dados iniciais da pesquisa [da preferência pelo almoço em casa] podem ser um reflexo do avanço da variante ômicron, que realmente provocou uma queda no movimento dos restaurantes em janeiro. Mas, neste momento, temos estabelecimentos que já estão apurando ganhos de 50% a 60% a mais do que no período pré-pandemia”, relata.
As dificuldades maiores, segundo Solmucci, realmente são vistas nas áreas mais comerciais das cidades, como centro do Rio de Janeiro, região da avenidas Paulista e Luiz Carlos Berrini, em São Paulo, entre outras onde a concentração de grandes edifícios de escritórios é maior – e onde a adoção do home office ou híbrido veio para ficar.
Na visão da Abrasel, o anúncio recente do pacote econômico e social de estímulo ao consumo do Governo Federal vai ajudar no aumento do movimento de clientes nos restaurantes, e impulsionar um crescimento real de 3% a 4% do setor neste ano.
Isso vai ajudar a amenizar as contas no vermelho que 43% dos estabelecimentos brasileiros apuraram em janeiro, por conta da alta nos casos de Covid-19 após as festas de fim de ano.
Fonte: Gazeta do Povo