As plataformas online de marketplace são ótimas ao gerarem o fluxo de uma clientela que antes não frequentava o seu estabelecimento
Por Valerio Fabris
O mercado do delivery tradicionalmente feito por telefone “evaporará” até 2025, isto é, daqui a cinco anos. Um indicador desta tendência foi a curva de crescimento observada entre as duas modalidades em 2018: as vendas e entregas em domicílio realizadas pelo sistema tradicional apresentaram queda de 8%. Já as mesmas operações, efetivadas por meio de plataformas online (como as das empresas iFood, Uber Eats e Rappi), cresceram 80%.
O prognóstico e os dados são do especialista em alimentação fora do lar e sócio da Food Consulting, Sergio Molinari. Hoje, o delivery como um todo (somando as operações do sistema tradicional com as das plataformas de marketplace online) representa 6% do mercado brasileiro de ‘food service’. Esta participação relativa saltará para pelo menos 10% do mercado da alimentação fora do lar, podendo chegar a 12%.
O consultor endereça aos donos de bares e lanchonetes a seguinte advertência: “vocês não são obrigados a trabalhar no delivery, mas sintam-se proibidos de não pensar nesse assunto”. A principal função do delivery, como sintetiza, é a de ser gerador de tráfego de clientes, funcionando como canal impulsionador de novos negócios. “Se o delivery não lhe trouxer clientes novos, a relevância para o seu negócio é altamente questionável”.
Por isso, quando diz que o empresário está “proibido de não pensar no delivery”, mesmo que por fim decida ficar fora dele, Molinari conclama-o a não tomar uma decisão antes de realizar minuciosa análise qualitativa do fluxo de tráfego do seu negócio. Com essa radiografia, terá condições de localizar uma eventual ociosidade e, ainda, poderá traçar o perfil da clientela, mapeando a sua frequência e hábitos de consumo ao longo da semana.
O receio dos empreendedores em relação às taxas de transação e entrega
O especialista reconhece que se disseminou um temor em relação às taxas de transação e de entrega cobradas pelas companhias operadoras de delivery online. Ao abordar a questão, faz duas ponderações. “É verdade que as taxas são altas?”. Ele mesmo responde: “Sim, é verdade”. E, daí, faz outra pergunta: “As taxas inviabilizam a adesão ao marketplace?”. Imediatamente, pronuncia sua enfática resposta: “Não!”.
As taxas das operadoras variam de 22% a 25%. “São uma pancada”, reconhece. Mas se incidem apenas sobre as vendas adicionais do tráfego novo, “tornam-se um ótimo negócio”, pois se trata de uma receita incremental, que, portanto, sequer existia anteriormente. Uma vez decidido que o caminho para a sustentabilidade do negócio é o delivery, costuma surgir na cabeça do empresário mais uma dúvida: lançará seu próprio aplicativo ou se juntará à plataforma online de algum marketplace?
Sem ativação não há solução, seja em um site ou em um aplicativo de delivery
Molinari vai direto a um ponto que considera decisivo. “Já não há mais espaço nas telas dos computadores e dos smartphones. Geralmente, estão repletas de aplicativos de bancos, jogos, música, vídeos, mapas, trânsito, redes sociais, lojas e restaurantes, tudo isso roubando memória e capacidade de processamento”. De repente, um desenvolvedor de site ou aplicativo coloca na tela um brinquedo, mas não aparece quem queira brincar com ele. A ativação é uma palavra-chave.
Como é que um solitário restaurante, que se enfronhou no emaranho de aplicativos, poderá ser satisfatoriamente percebido por uma nova clientela potencial, se naquele ambiente virtual pisca uma radiante e vistosa estrela do marketplace? O alto comando gerencial das mais bem-sucedidas plataformas de delivery o tempo todo aciona seus canais e as teias de relacionamentos pessoais, de marketing e promoções, tudo isso potencializado pelas incessantes inovações tecnológicas, como as da inteligência artificial e do iminente comando de voz.
*Reportagem originalmente publicada na revista Bares & Restaurantes 127.