Morreu de infarte, nesta quarta-feira (23), aos 92 anos, o chef francês Pierre Troisgros, um dos mais importantes chefs franceses do mundo, pai de Claude Troisgros, como informou, em seu blog, o colega Ancelmo Gois. Pierre estava em sua casa, em Coceau, nas proximidades de Roanne, onde, desde 1930, funciona a emblemática Maison Troisgros, restaurante pousada instalada vizinha à Gare de Roanne, que virou referência de boa mesa no mundo. Há mais de quatro décadas, a Maison Troisgros exibe as três estrelas Michelin (desde 1968) na fachada cor de rosa, referência aos salmões das águas do rio Loire e Saône, e verde, uma alusão aos temperinhos da região.
Nos anos 1970, Pierre Troisgros, juntamente com Paul Bocuse, Roger Vergé e Alain Chapel, criaram a Nouvelle Cuisine, um movimento que revolucionou os preceitos da gastronomia francesa e internacional. Pregavam a feitura de pratos mais leves, com menos molhos e amanteigados e servidos em porções menores, com apuro na apresentação de uma obra de arte. Priorizavam os produtos frescos, da estação, e composições que trouxessem nutrientes. Cinquenta anos depois, são preceitos que estão em vigor até hoje.
"Foi graças ao Pierre Troisgros que resolvi ser cozinheiro. Via seus programas na televisão e ficava maravilhado. Ele me motivou a seguir em frente. Anos depois, tive a oportunidade de estar com ele no Sofitel, hotel onde ele mantinha laços estreitos. Afinal, foi ali onde o filho Claude começou a trabalhar no Rio", diz o chef Roland Villard. "Ele foi o grande nome da gastronomia francesa. É o o ultimo grande nome de uma geração de chefs francês que fez historia a nos deixar. Mas fica o legado."
A familia Troisgros gira em torno da boa mesa desde 1930, quando Jean Baptiste e Marie, os pais de Pierre (avós de Claude), abriram a Maison Troisgros vizinha à Gare de Roanne, que virou referência gastronômica desde sempre, um dos poucos restaurantes no mundo há manter há mais de quatro décadas a cotação máxima Michelin. Pela cozinha dali, uma legião de chefs compartilhou das panelas de mestre.
Em 2012, o chef carioca Pedro de Artagão passou 4 dias na casa da família Troisgros, onde pode desfrutar do chucrute preparado pelo próprio Pierre.
"Impressionante a vitalidade dele, apesar da idade avançada. Contava historias, compartilhava receitas, isso dirigindo o carro e me mostrando a região. Foram momentos históricos na minha vida, estar ali ao lado desse que é um dos maiores nomes da gastronomia mundial".
São incontáveis as vezes em que Pierre esteve no Rio. Numa dessas visitas, quando ficava ou hospedado no Sofitel ou na casa do Claude, conversei com Pierre sobre sua trajetória. Ele me contou que foi o primeiro a combinar vinho tinto com peixe e a tirar as travessas das mesas e acabar com o serviço à francesa. A Maison Troisgros lançou a prática de servir os pratos já montados na cozinha, "empratados". Perguntei a razão e ele respondeu:
"O chef deve cuidar de tudo, do começo ao fim. Deve caber a ele também a montagem do prato".
"Papai nos educou com amor, sabedoria e generosidade. Ele foi um pai exemplar. Chef Pierre marcou gerações de cozinheiros com sua mente livre, alegre e criativa. Mr. Troisgros foi um homem do bem, viveu a vida plenamente. Orgulho de ser seu filho", disse Claude. Maison Troisgros abriu filial no Japão e na Russia ("os russos costumam comer o dia todo, dai, trabalhamos de meio-dia à meia-noite sem parar"). Nos últimos anos, Michel, o filho do meio de Pierre, é quem cuida do até hoje disputadíssimo restaurante de Roanne. "Pierre foi o mestre dos mestres. Tudo que fazemos hoje na gastronomia, devemos a ele. O céu ganhou uma estrela maior", diz o chef Ricardo Lapeyre.
Fonte: O Globo