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Por Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel

O foco do plano estratégico da Abrasel para o quinquênio 2021/2025 é a sobrevivência saudável e a prosperidade sustentável de 1,2 milhão de estabelecimentos do setor da alimentação fora do lar.

Isso signi ca um mergulho do Brasil na cultura empreendedora, tendo como vetores os bares, cafés, restaurantes e até mesmo os carrinhos de sanduíches ou quiosques à beira mar. A entidade representa todos eles, sendo associados ou não.

É, assim, por exemplo, que a Abrasel igualmente representa os 660 bares e as 130 lanchonetes do Complexo da Maré, o aglomerado carioca de 16 comunidades às margens da Avenida Brasil e da Linha Vermelha. É comum que as favelas estejam incrustadas nas cidades adensadas, bem próximas aos locais de trabalho e aos equipamentos urbanos.

No conjunto das favelas da Maré, onde moram 140 mil habitantes, existem três mil estabelecimentos de vários segmentos do comércio e dos serviços, como mercadinhos e salões de beleza, conforme apontou o Censo realizado pela ONG Rede da Maré e pelo Observatório das Favelas.

As 16 favelas desse Complexo contam com as ações da organização não governamental ‘Rede de Desenvolvimento das Marés’. Fundada em 1997, a ONG vem sendo dirigida, desde então, pela hoje professora universitária do Insper e da USP, Eliana Sousa Silva.

Ela foi morar lá, com sua família de imigrantes paraibanos, quando tinha sete anos de idade. Na comparação com outros aglomerados de favelas que existem nas grandes cidades brasileiras, o Complexo da Maré tem um panorama geral relativamente melhor.

Isso graças aos programas de educação, cultura, melhorias territoriais e fomento ao empreendedorismo realizados por iniciativa da ONG. Eis uma clara demonstração de que a sociedade brasileira responde positivamente aos estímulos que lhe são dados.

É com essa visão que, no nosso plano estratégico 2021/2025, estamos entrando, ainda mais profundamente, na raiz das gestões dos empreendedores que nos solicitam apoio e orientação. Paralelamente, continuaremos, com igual intensidade, atuando em prol da melhoria do ambiente de negócios no país.

Uma vez que já alcançamos um extenso rol de conquistas institucionais básicas, de agora em diante, até às eleições presidenciais de 2025, teremos como macro objetivo a redução da desigualdade no país e a ampliação da classe média.

O primeiro eixo tem como propósito o de diminuir ao mínimo possível, na medida das nossas forças, o racismo socialmente construído ao longo dos cinco séculos da história do Brasil. O segundo eixo – conectado ao primeiro – é ampliar a classe média, colocando-se um ponto nal na segregação urbana. Grande parcela da população nacional vive em territórios vulneráveis, desprovidos da infraestrutura básica que se espalha por outras áreas das cidades.

Segundo dados do IBGE, o país tem, na sua geogra a urbana e rural, 67,7 milhões de pessoas vivendo na pobreza e outras 27,3 milhões na extrema pobreza.

A soma das pessoas situadas na faixa da extrema pobreza (que, de acordo com o critério adotado pelo Banco Mundial, sobrevivem com menos de US$ 1,90 por dia) e na faixa dos pobres (que sobrevivem com menos de U$ 5,50) resulta em uma população de 95 milhões de brasileiros.

Este total de segregados equivale a uma população maior do que a da Alemanha (84 milhões), Reino Unido (67 milhões), França (67 milhões) e Itália (60 milhões). Corresponde a duas vezes e meia a população do Canadá (38 milhões).

Considerando-se que 85% da população brasileira vivem nas cidades, o contingente de moradores das favelas e periferias urbanas (que majoritariamente se autodeclararam ao IBGE como pretos e pardos) somam 80 milhões de pessoas.

Como cou demonstrado nas 16 comunida-des do Complexo da Maré, há uma expressiva parcela dos habitantes das favelas e periferias urbanas dotada de um inquestionável espírito empreendedor.

Portanto, quando esses vulneráveis territórios urbanos receberem uma completa infraestrutura básica, estarão estabelecidas as condições para se reduzir a segregação urbana, a pobreza e os preconceitos social e de cor. É a partir daí que ascenderá ao meio da pirâmide socioeconômica uma nova classe média de um Brasil novo.

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