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No Brasil, o total de pessoas com renda domiciliar per capita de até R$ 497 mensais atingiu 62,9 milhões de brasileiros, em 2021, representando 29,6% da população do país, de acordo com estudo desenvolvido pela FGV Social

No EUA, há vagas de sobra - e faltam candidatos para ocupá-las - nas funções, por exemplo, de camareiras de hotel, faxineiras, garçons, cumins, ajudantes de cozinha, lavadores de pratos, motoristas de caminhão e de transporte público, camareiras de hotéis, diaristas. Foto: Freepik

A inimaginável grande crise de mão de obra que se abateu sobre serviços básicos dos Estados Unidos tem como causa principal a acentuada queda na entrada de imigrantes legais. Isso se deveu à intricada burocracia que Donald Trump criou na Casa Branca, por meio de decretos do Executivo. Ele não construiu um muro de aço ou de concreto. Construiu um burocrático muro de papel, como definiu o jornal The Washington Post.

Ainda segundo o jornal, durante o período 2015/2106, o confronto numérico entre os americanos que emigraram a outros países e os estrangeiros que conseguiram entrar nos Estados Unidos resultou no saldo imigratório de mais de um milhão de pessoas. Em 2021, esse saldo imigratório havia caído para 247 mil.

Apenas entre janeiro e julho de 2021, de acordo com o jornal Valor (citando dados do Itamaraty), o serviço americano de Alfândega e Proteção de Fronteiras barrou e deportou 37.421 brasileiros que tentavam entrar ilegalmente nos Estados Unidos. Ainda segundo o Itamaraty, o número dos brasileiros que foram legal ou ilegalmente para o exterior cresceu 35% entre 2010 e 2020, passando de 3,1 milhões para 4,2 milhões.

A imensa maioria dos emigrantes é constituída de pessoas com baixa escolaridade e qualificação profissional. É a mão de obra que, exatamente, se oferece aos serviços básicos mais demandados nos Estados Unidos.

No país, há vagas de sobra - e faltam candidatos para ocupá-las - nas funções, por exemplo, de camareiras de hotel, faxineiras, garçons, cumins, ajudantes de cozinha, lavadores de pratos, motoristas de caminhão e de transporte público, camareiras de hotéis, diaristas.

Em editorial, a direção do The Washington Post afirmou que o freio burocrático criado por Trump levou à queda na imigração, deixando os Estados Unidos famintos de trabalhadores.

Enquanto isso, no Brasil, o total de pessoas com renda domiciliar per capita de até R$ 497 mensais atingiu 62,9 milhões de brasileiros, em 2021, representando 29,6% da população do país, de acordo com estudo desenvolvido pela FGV Social. Ou seja: por aqui sobra gente que precisa e quer trabalhar.

Uma considerável parcela dos brasileiros em situação de pobreza e extrema pobreza mora em favelas, ilhas de abandono incrustadas no mais urbanizado miolo das nossas cidades. De acordo com o fundador do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, nas 13.151 favelas do país moram 17,3 milhões de pessoas.

Além das favelas, em outras áreas de abandono haveria cerca de 45 milhões de brasileiros em situação de pobreza e extrema pobreza. É a nossa gente morando nos casebres, nos barracões ou nas palafitas, em periferias das mais distantes bordas urbanas. E, das janelas de nossas vizinhanças, podemos enxergar as favelas.

As pessoas não são se aventuram na emigração ilegal movidas por um irrefreável fascínio pelos Estados Unidos. Elas se sentem expulsas daqui, em razão de suas precárias condições de
vida. Meirelles constatou que há uma crônica e profunda insatisfação dos moradores das favelas quanto à mínima infraestrutura básica. Isso significa coleta de lixo, iluminação, segurança, saneamento básico, transporte público e atendimento à saúde, acesso à internet.

Nesta direção, a Abrasel (de forma pioneira, entre todas as entidades privadas voltadas ao empreendedorismo), iniciou no ano passado uma linha de ação, junto às lideranças e comunidades locais, em duas favelas, uma no Nordeste (na Favela do Dendê, em Fortaleza) e outra na região metropolitana de São Paulo (no distrito de Campo Limpo).

A Abrasel lidera, assim, uma inadiável pauta da sociedade civil. Isso por que vivem nas cidades 85% dos brasileiros. A prioridade número um do país: redução da pobreza e supressão da
miséria, cujo primeiro passo é a plena inclusão de 62,9 milhões de pessoas à infraestrutura urbana plena e, portanto, à cidadania. O país já tem um encontro marcado para começar a resolver esta questão. São as eleições municipais em outubro de 2024.

*Paulo Solmucci é presidente-executivo da Abrasel

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