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País afora segue, na mais absoluta normalidade, o indiscriminado uso do açúcar para a produção caseira e comercial

O Projeto de Lei com vistas à regulamentação da reforma tributária sobre o consumo será votado em breve. Entre os tópicos está o imposto seletivo, que recebeu o apelido de “imposto do pecado”. A pretexto de se combater a obesidade, foram incluídas nesta malfadada categoria as “bebidas açucaradas”, como chás, refrescos e refrigerantes.

Ora, se o objetivo é o de combater a obesidade, por que, no projeto de lei, o açúcar como um todo se resume tão somente à “bebida açucarada”? Há aí um viés puramente arrecadatório.

Enquanto se impõe a quaisquer “bebidas açucaradas” a pena máxima da sobretaxação (o “imposto do pecado”), país afora segue, na mais absoluta normalidade, o indiscriminado uso do açúcar para a produção caseira e comercial de bolos, tortas, brigadeiros, mousses, pavês, quindins, pudins, suspiros.

Na esteira desta incoerência, a proposta do texto classifica o açúcar como isento de imposto. O que provoca obesidade, na visão de um time do governo, são exclusivamente as “bebidas açucaradas”.

Isso se dá em meio à busca voraz de qualquer dinheiro que possa ser canalizado em direção ao poço sem fundo do desequilíbrio fiscal. A receita do governo, em maio de 2024, teve crescimento real de 10%, impulsionado principalmente pela arrecadação de impostos. No entanto, a despesa pública está ainda mais em alta, com um crescimento real de 12% acima da inflação.

É dificílima a busca de um ponto de equilíbrio sem que este ajuste fiscal tenha como efeito colateral o sacrifício dos pobres. A base da pirâmide socioeconômica é sensível a qualquer medida que impacte seu poder de compra. Elevação de preço, mesmo de um simples refrigerante, representa uma severa adversidade em suas vidas.

A entidade que representa os botecos, bares, lanchonetes e restaurantes capta as sensibilidades de todos os extratos da sociedade. O setor tem 1,5 milhão de CNPJs ativos, dos quais 900 mil são microempreendedores individuais.

Dispomos de dados muito precisos e, assim, sabemos que 70% do consumo brasileiro de açúcar ocorre fora do espectro das bebidas. As “bebidas açucaradas” representam apenas 1,7% do consumo geral de calorias.

Isso demonstra que é apenas arrecadatório o objetivo de encaixar as “bebidas açucaradas” entre os bens e serviços que seriam prejudiciais à saúde. Acredite quem quiser, a alíquota destas bebidas, que hoje já é uma das maiores da América Latina, sofrerá ainda uma majoração com o imposto seletivo.

Sem dúvida, a reforma tributária é a maior conquista ao desenvolvimento do País depois do Plano Real. Que, portanto, não se deixe manchar com a nódoa das “bebidas açucaradas” o benfazejo Projeto de Lei que a regulamentará.

Açúcar, a doce receita arrecadatória

O governo, em sua busca insaciável por recursos, nos apresenta um paradoxo açucarado. O açúcar, aquele que adoça nossos cafés e bolos, é tratado como um inofensivo alimento da cesta básica, isento de imposto.

Mas espere… quando esse mesmo açúcar se dissolve em uma bebida, magicamente se revela um supervilão: um produto prejudicial à saúde, digno de impostos extras, o imposto do pecado. É como se o açúcar tivesse uma identidade secreta: Clark Kent na despensa e... Lex Luthor no copo! Ops, não era para ser o Super-Homem?

E o governo, em vez de combater com iniciativas educativas os verdadeiros vilões – o consumo excessivo de calorias e o sedentarismo –, decide apertar o cinto dos refrigerantes e sucos adoçados. Uma medida que parece mais um truque de mágica do que uma estratégia eficaz, uma enganação.

Enquanto os rótulos das bebidas são escrutinados, o açúcar puro ri à toa, livre de tributos. Afinal, ele não precisa de disfarces. Mas, quando se mistura com água e gás, vira um grande problema de saúde pública. É como se o açúcar estivesse dizendo: “Não sou eu, é a bebida!”

Então, da próxima vez que você adoçar seu café, lembre-se: o açúcar é o mestre da transformação. E o governo? Bem, ele parece estar mais interessado em arrecadar do que em resolver o enigma da obesidade.

Estamos muito confiantes no sucesso da Reforma Tributária, admiramos a determinação do ministro Haddad em buscar o imperioso equilíbrio fiscal, mas defendemos enfaticamente a correção desse engano, que macula o extraordinário trabalho realizado pelo Governo e Congresso Nacional até aqui.

*Publicado originalmente no Estadão

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