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O pix, sistema de pagamentos instantâneos do banco central do brasil, promete mudanças profundas na vida financeira dos estabelecimentos – e de todos os brasileiros. Ele centraliza e torna mais fáceis e rápidas as transferências de valores entre pessoas e empresas, abrindo espaço para a inovação e trazendo benefícios aos clientes e empresários.

Por José Eduardo Camargo

O ano de 2020 promete ser lembrado como o marco de uma nova configuração no mercado de pagamentos do Brasil. A frase parece um exagero, mas o lançamento pelo Banco Central do novo serviço de pagamentos instantâneos – que ganhou o nome comercial de Pix – já terá repercussões imediatas quando entrar em operação, em novembro. E deve, nos próximos anos, revolucionar o modo com que os brasileiros pagam contas, movimentam valores, contratam serviços financeiros. A tecnologia também estimula a concorrência e abre espaço para o surgimento de novos negócios. Os benefícios para quem empreende são evidentes. E os bares e restaurantes (desde o remoto boteco no interior da Amazônia até o mais sofisticado bistrô do Leblon, passando pelas grandes redes de fast food) irão sentir seus efeitos de imediato.

O Banco Central seguiu a regra de ouro da inovação – keep it simple, ou faça o simples – ao construir as regras de negócio e de operação do Pix. O serviço vai permitir que qualquer pessoa ou empresa transfira quantias de imediato para a conta de qualquer outra pessoa ou empresa, em qualquer banco (ou carteira digital), os sete dias da semana, 24 horas por dia, através do telefone celular ou do computador. E a transferência é imediata: menos de dez segundos. Todas as instituições financeiras que têm mais de 500 mil contas ativas e registro no Banco Central terão de estar prontas já em novembro. Na prática, significa que será possível pagar qualquer conta sem usar dinheiro ou cartão, apenas transferindo dinheiro de uma conta para a outra, qualquer seja o banco de quem paga e o banco de quem recebe.

Como funciona

Imagine duas situações. Na primeira, o cliente está em seu estabelecimento e quer pagar uma conta. Ele abre o smartphone, acessa o app do banco onde tem conta e clica no Pix. Na conta impressa há um QR Code, ou código de barras, já com o valor a pagar (é o chamado QR Code dinâmico, que serve apenas para aquela transação). Ele aponta o celular
para o código, confere os dados e o valor que irão aparecer no visor, valida a transação com senha ou biometria (impressão digital, por exemplo) e pronto. Em poucos segundos o dinheiro estará na conta do estabelecimento. O modo de iniciar o pagamento pode ser também por um QR Code fixo (que apenas aponta para conta do recebedor) ou mesmo por
meio de uma chave, como o número de telefone ou o CPF. Do mesmo modo que ocorre com o pagamento com dinheiro ou cartão, o sistema de loja irá
contabilizar o movimento financeiro.

Na segunda situação, o empresário precisa pagar o fornecimento de frutas e legumes que o verdureiro de confiança trouxe para a semana. Em vez de entrar no sistema do banco, inserir os dados de conta e fazer um TED, ele simplesmente pode clicar no Pix, colocar o telefone do fornecedor, conferir os dados e autorizar a transferência. O valor irá cair
imediatamente na conta do verdureiro.


Adoção da tecnologia

A aposta do Banco Central é de que o varejo irá puxar o uso do Pix para pagamentos. Afinal, é muito melhor receber à vista de modo instantâneo do que esperar a compensação do cartão de crédito ou de débito, sem contar que a taxa para quem recebe promete ser muito – mas muito – menor do que a cobrada hoje pelas bandeiras. Mesmo em relação ao
pagamento em dinheiro há vantagens. Que vão da maior segurança em trabalhar com menos numerário à diminuição dos riscos de fraude interna.

Há um sentimento do mercado de que os pagamentos em dinheiro sejam os primeiros a ser substituídos. Fintechs e instituições financeiras irão atrair os não-bancarizados (45 milhões de pessoas, que movimentam 800 bilhões de reais por ano, segundo o Instituto Locomotiva) com contas fáceis de abrir e movimentar, trazendo outra dinâmica para as transações hoje feitas com papel-moeda. Quanto aos cartões de débito, que já têm uma cultura de uso estabelecida entre os consumidores, a tendência é que o varejo poderá estimular ao longo do tempo a substituição pelo Pix em função das taxas menores do que a das atuais maquininhas.

Por fim, os cartões de crédito trazem, como o próprio nome diz, serviços financeiros para os clientes, como a possibilidade de recorrência (dividir o valor em vários pagamentos mensais) – isso não será possível usando o Pix em um primeiro momento. Os vouchers (como os cartões de refeição ou combustível) também não devem ser afetados no curto prazo.

Além dos pagamentos, há o potencial de um impacto imenso na relação com fornecedores. Boletos, Docs e TEDs bancários tendem a ter menos uso. Por que fazer um TED (e ainda pagar por ele) se você pode simplesmente transferir o dinheiro imediatamente para o fornecedor, que irá pagar por isso apenas um ínfimo valor que receber, mesmo que a transação ocorra de madrugada ou no fim de semana? Logo de cara, portanto, os empresários do setor e seus funcionários da área financeira devem ficar atentos às oportunidades que a nova tecnologia trará. A própria relação com os empregados promete mudar.

Pagar os músicos, por exemplo, ou os entregadores avulsos será muito mais fácil e rápido. Por se tratar de um ambiente aberto, que pode ser integrado a outros aplicativos e programas, o Pix também é uma oportunidade para o desenvolvimento de soluções por parte de todos os atores do mercado, dos bancos e fintechs aos provedores de sistemas de gestão ou de e-commerce. Toda a cadeia de valor no entorno de bares e restaurantes (incluindo o delivery) deve se movimentar para aproveitar a nova dinâmica que o Pix promete imprimir ao mercado.

Futuro

Além da obrigatoriedade de adoção pelos bancos, várias entidades de governo também devem aderir imediatamente ao serviço, permitindo o pagamento de contas, boletos e DARFs através do Pix. Mas o plano não se resume ao lançamento. Um cronograma detalhado de melhorias e novas funcionalidades já está sendo programado. Em novembro, por exemplo, para usar o serviço será preciso que tanto o pagador como o recebedor tenham acesso à internet. Em 2021, apenas o recebedor precisará ter acesso, lendo um QR Code gerado pelo pagador. Também em 2021 deve entrar em operação o suporte ao pagamento por aproximação (através do sistema NFC ou de transmissão magnética, o MST).

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