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As dark kitchens, negócios de alimentação que oferecem apenas delivery, crescem e evitam perdas com distanciamento social

Entre os serviços que cresceram durante a pandemia, o delivery de comida é um dos que lideraram o aumento. Uma pesquisa da Mobills, startup de gestão de finanças pessoais, constatou que os gastos com os principais aplicativos de entregas de comi- da cresceram 103% no primeiro semestre de 2020.

No entanto, além dos restaurantes já estabelecidos, o mercado viu a entrada na disputa por clientes as chamadas dark kitchens – uma empresa de serviço de alimentação que oferece apenas comida por delivery. Em inglês, dark kitchen significa algo como “cozinha obscura” ou “cozinha secreta”. O conceito é sim- ples: o empreendedor que resolve entrar nesse ramo compra ou aluga um espaço que será usado como cozinha. Lá, ele tem todo o aparato necessário para produzir as refeições, mas não atende o público no local.

Em vez disso, ele realiza as suas vendas por sites e aplicativos e entrega direto para o cliente. A empreendedora Adelia Nunes, dona do Mais Vida Alimentos, iniciou suas atividades em abril de 2019 junto com a sócia Gizely Rocha. A empresa trabalha com a fabricação de marmitas congeladas e quentes – as congela- das podem ser compradas via aplicativos de delivery e também por contato direto pelos canais da empresa.

Já as marmitas quentes são vendidas apenas sob contrato de fornecimento, com quantidades para consumo já especificadas. Adelia começou com poucos clientes e aproveitou o início da operação para aperfeiçoar as estratégias para gestão e divulgação do seu negócio – investiu em aprimoramento de cardápio e um site para vendas. No início de 2020, ela conseguiu colocar o site de sua empresa no ar. A ideia do Mais Vida Alimentos é fornecer comida saudável, de qualidade e com um preço acessível para o consumidor.

Para atingir esse objetivo, ela aposta na entrega de comidas congeladas sem limites para pedidos. A ideia é conseguir fornecer uma alimentação de qualidade – que inclui a opção de pratos veganos, sopas e caldos – por valores abaixo da média de um restaurante. Com essa ideia na cabeça, ela montou uma cozinha em um espaço alugado no Capão Redondo, na zona sul da Capital, e entrega suas marmitas em diversos bairros de São Paulo, inclusive na região central. Mesmo com todo o planejamento realizado, a empreendedora confessa que a mudança de rota trazida pela pandemia foi um susto.

“Eu não imaginava quantos novos concorrentes teríamos logo quando aumentamos nosso leque de atendimento. Nossa atuação para delivery é comida congelada, mas com tantos restaurantes a mais oferecendo comida quente para pronta entrega foi um choque”, relembra.

Com o apoio do Sebrae-SP, Adelia precisou traçar novas estratégias para se readequar. Foi então que ela recebeu a informação do Sebrae sobre a abertura de edital para fornecimento de marmitas para a prefeitura de São Paulo. Como sua ideia sempre foi atuar com marmitas quentes apenas sob demanda, viu nesse modelo a condição ideal para alavancar as suas vendas.

“Nosso faturamento aumentou em mais de 600%. Oferecemos comida de qualidade para os vulneráveis. E também começamos a trabalhar com marmitas quentes para produtoras. Atualmente, meu faturamento com empresas é maior, mas quero também investir em novos pratos para esse consumidor que passa mais tempo em casa e está precisando desse serviço”, conta.

Atuação nos anos 90

Antes mesmo de surgir o termo dark kitchen, Terezinha Maria Dotto, proprietária do Buffet Paris, em Guarulhos, já trabalhava de maneira próxima a esse conceito. Em 1992, a empreendedora iniciou sua jornada atendendo a festas apenas na casa dos clientes: ela produzia a comida e levava para a festa. Já em 1995, a empresária conseguiu montar a sua primeira cozinha profissional.

Depois de um tempo, adquiriu também um espaço para realizar as festas, mas o seu negócio não parou por aí. Terezinha tornou-se cliente do Sebrae-SP em 2004 e, no ano seguinte, já comprou uma cozinha industrial em um espaço maior. Ela também fez faculdade de gastronomia, cursos na área de alimentação fora do lar e participou de muitas iniciativas do Sebrae, sempre com o objetivo de expandir seu negócio.

Em 2015 veio a grande virada: depois de participar com o Sebrae- -SP da Summer Fancy Food – considerada a mais importante feira de alimentos e bebidas do mundo e a principal vitrine de inovação do setor – com o Sebrae-SP, Terezinha resolveu ampliar seu escopo de atuação e usar o espaço ocioso de sua cozinha para a produção de marmitas.

“Vi que lá se falava muito de alimentação saudável, vegana e vegetariana. Consegui identificar isso como uma tendência. Quando voltei, fiz pós em gastronomia funcional e comecei a fazer marmita focando sempre na alimentação saudável”, relembra.

Atualmente a produção de marmitas correspondente a 70% de tudo que é feito em sua cozinha. “Logo quando comecei com a venda das marmitas, eu tive um aumento de 20% no meu faturamento. Com a pandemia, minha demanda por marmitas ajudou muito o meu negócio e eu consigo atender como os restaurantes: a comida sai quentinha da cozinha direto para a casa do cliente, por apps de delivery”, explica. Ela aproveitou essa fase também para estudar e fazer um planejamento para o futuro de seu negócio.

“Em 2020, fiz curso de marketing digital e participei do Programa ALI Brasil Mais, voltado para inovação. Para o futuro quero atuar também com o atendimento de eventos empresariais e também pen- so na possibilidade de alugar a minha cozinha em momentos em que ela estiver ociosa”, enumera.

Na prática

A consultora de negócios do Sebrae-SP Helena Costa de Andrade afirma que, no atual momento, investir em uma dark kitchen é uma boa alternativa para começar um negócio na área de alimentação, pois exige um investimento muito inferior ao de abrir um salão para atendimento e não há necessidade de contratar garçons, por exemplo.

Além disso, como o cliente não precisa saber a localização da empresa, o modelo traz a possibilidade de montar a cozinha em regiões com aluguéis mais baixos, o que pode tornar o negócio mais lucrativo.

Por outro lado, há a preocupação de oferecer embalagens seguras e higiênicas para garantir que a refeição chegue perfeita à casa do cliente. Para aqueles que têm interesse em atuar no ramo, o Sebrae-SP oferece consultorias e também programas estruturados de capacitação voltados para empresas de alimentação. A consultora reforça que o empreendedor precisa estar com o planejamento em dia antes de começar sua jornada.

“Isso inclui elaborar o plano de negócios, fazer o cálculo de formação de preço de venda dos produtos a serem comercializados já considerando as taxas dos aplicativos de entrega, definir com quais aplicativos de entrega irá trabalhar e definir as estratégias de marketing nas mídias sociais para que não fique dependente apenas da divulgação realizada pelos aplicativos de entrega”, ressalta.

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