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Por José Eduardo Camargo

Apesar de grande comprador, o Brasil ainda não tem um mercado consumidor atento à qualidade e ao frescor. Isso cria oportunidades para os bares e restaurantes

Na mesa, quatro marcas de azeite. Três delas provenientes de produtores tradicionais e premiados da Espanha, de Portugal e da Itália. A quarta, do Brasil (produzida em Minas Gerais). Para degustá-las às cegas, vários sommeliers em um curso de formação, em São Paulo. No fim, a opinião quase unânime: o azeite nacional agradou mais. “Esta experiência mostra o valor de um azeite fresco. O nacional tinha sido recém-produzido e mostrava uma vivacidade que impressionou os alunos”, diz Ricardo Castanho, especialista em azeites e instrutor da ABS-SP (Associação Brasileira de Sommeliers-São Paulo). “Esse reconhecimento também ocorre fora do país, onde os azeites nacionais já conquistaram cerca de 80 prêmios nos últimos cinco anos. Em 2019, três marcas daqui entraram na lista das 100 mais premiadas daquele ano”, completa.

Diego Bertolini, da consultoria Educa Vinhos (educavinhos.com.br), afirma que os bares e restaurantes têm um papel fundamental na formação do gosto do consumidor. E podem se aproveitar do enorme potencial do mercado. “É preciso chamar a atenção para as possibilidades de se harmonizar um prato com azeite, ou mesmo para as diferenças entre as diversas opções. Por um valor fixo a mais, por exemplo, o restaurante pode permitir uma pequena degustação de três ou quatro variedades, e, depois, indicar a melhor harmonização com o prato escolhido. Isso gera valor e cria experiência. Assim todos ganham”, diz Bertolini.


Neste ponto, a produção nacional de azeites em crescimento e a alta do dólar podem ser fatores importantes. “Nossa produção ainda é muito pequena, cerca de 0,3% do que importamos, mas, até 2019, a área plantada de oliveiras cresceu cerca de 20% ao ano. Há duas grandes regiões produtoras: Rio Grande do Sul e as terras altas de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro, como a Serra da Mantiqueira. Para o dono de um bar ou restaurante, outra boa ideia é fazer festivais de harmonização com os bons azeites nacionais, ocasiões especiais para fidelizar os clientes e, ao mesmo tempo, despertar neles o valor de uma boa degustação”, diz Ricardo Castanho, que também mantém uma plataforma de conteúdo nas redes sobre o tema, chamada Ao Sabor do Azeite (@aosabordoazeite).

A maior parte do azeite consumido no Brasil vem da Península Ibérica – primeiro Portugal, depois Espanha. Azeites italianos e gregos também têm presença, dividindo as prateleiras dos supermercados com algumas marcas de Chile, Argentina e Uruguai. Os nossos vizinhos têm marcas de boa qualidade e que chegam a preços competitivos no mercado. De todo modo, todos os azeites vindos de fora sofrem influência da alta do dólar. “Para cozinhar, os estabelecimentos irão continuar por um tempo usando o produto importado, mesmo com os preços mais altos em função da moeda americana”, diz Diego Bertolini. “A produção nacional ainda vai levar uns bons anos até poder atender o mercado em pé de igualdade, por causa do volume. Tudo deve caminhar junto, com o gosto do cliente sendo cada vez mais apurado e a nossa produção aumentando. O cenário daqui 15 anos será bem diferente”, completa o especialista.


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