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"A classe política está completamente atrasada ao não enxergar o decisivo papel do urbanismo na melhoria de vida dos brasileiros"

Por Valerio Fabris (Entrevista exclusiva para a revista Bares & Restaurantes em fevereiro de 2017)

Washington Fajardo, arquiteto e urbanista, recusa-se a ver a cidade na visão dos olhos de pássaro, a “bird’s-eye view”. Ele a vê na perspectiva do pedestre. Durante oito anos, foi assessor especial de Eduardo Paes para assuntos urbanos.

Exerceu, paralelamente, dois cargos sucessivos ao longo da dupla gestão do prefeito, iniciada em janeiro de 2009 e encerrada no último réveillon. Primeiramente, esteve à frente da subsecretaria municipal de Patrimônio Cultural, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design. De 2012, em diante, presidiu o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

Ainda que a sua principal atribuição diária, desde 2012, fosse a de cuidar dos 35 mil imóveis que fazem parte do patrimônio cultural carioca, bem como de seu entorno imediato, como as calçadas e praças, Fajardo participou, ao lado de Eduardo Paes, de tudo o que se refere ao Rio da era olímpica, sem que nada lhe escapasse: o Porto Maravilha, a Praça Mauá, o Museu do Amanhã, o Museu de Arte do Rio, a derrubada da Perimetral. Os insights, as sugestões e intervenções vindas dele privilegiaram a cidade olhada a partir da rua.

É um contumaz ‘flâneur’, um andarilho de tempo quase integral, que, quando não está dentro dos gabinetes e nas frentes de obras, gasta muita sola de tênis e sapato apreendendo as paisagens humanas e urbanas para fazer o seu filme mental, limpando, organizando, reavivando cenários da vida comum.

O que nunca sai do seu roteiro é o propósito de fazer com que milhares de cariocas voltem a morar no Centro, recriando-se uma circulação de pessoas que acabe, de alguma forma, assemelhando-se à que perdurou dos tempos de Machado de Assis até à derradeira primavera da capital da República.

Fajardo diz que está muito satisfeito com o trabalho realizado ao longo de oito anos. O seu ângulo de observação de toda a cidade é o Centro, que vai da Lapa aos morros adjacentes à área portuária. Para que se complete a virada da página, iniciada com a Olimpíada, a região tem de encarar dois desafios de elevado grau de dificuldade: fazer com que as pessoas e os empreendedores imobiliários elejam o Centro como opção de moradia; e, também, dar mais qualidade e ordenamento à ocupação dos espaços públicos.

Vem das raízes do Brasil a rejeição dos extratos de renda mais alta em conviver com as camadas populares. “A nossa elite viaja e, lá fora, anda de transporte público. Mas, aqui não. Por que evita contato social com a diversidade? Acho que a gente tem de expor essas idiossincrasias”, diz ele.

No outra ponta, pondera que é preciso ordenar a ocupação dos espaços públicos, especialmente no que diz respeito aos camelôs. “Vendem-se produtos industrializados sem nota fiscal. Vendem-se de lâminas de barbear a chocolate. Por trás disso, há uma rede de ilegalidade, inclusive de contrabando”.

Por que o empenho em revitalizar o Centro do Rio?

A cidade coerente com as necessidades do século XXI é, sobretudo, aquela que tem vida no Centro. Este é um enorme desafio para os cariocas: reocupar os vazios de sua área central, readensando-o, dotando-o de uma boa infraestrutura de transportes, permitindo-se que as pessoas se apropriem de um lugar que tem grande valor cultural.

O que é especialmente desafiador, agora, é dar qualidade aos espaços públicos e fomentar as moradias. É fazer, a partir do Centro, uma cidade de baixo carbono.

O que se perde com a deterioração das áreas centrais nas cidades brasileiras?

Imagine a quantidade de visitantes que poderia estar usufruindo dos centros urbanos maravilhosos, pelo país afora, como os de São Luís, do Recife, de Salvador, Belém, Porto Alegre. Como é que a gente não está aproveitando essa riqueza? São centros históricos soberbos, portugueses na sua origem. O Centro do Rio contém a história do país. Tem um imenso valor cultural e afetivo para todos os brasileiros.

O que gerou o esvaziamento residencial dos centros históricos?

Depois da Segunda Guerra, quase o planeta inteiro embarcou na onda das cidades norte-americanas. E, aqui no Brasil, isso se deu especialmente com a construção de Brasília. O chamamento geral era: vamos espalhar as cidades; o carro vai resolver o espraiamento urbano. Isso levou às crises energética e ambiental, e a todos os problemas decorrentes desse modelo.

A urbanização horizontal foi o grande produto de exportação dos Estados Unidos. A Europa lutou muito para combater o modelo urbanístico americano, fazendo um esforço continuado de manter suas cidades densas, com populações nas áreas centrais.

O urbanismo funcional, em que se separam as áreas da cidade por atividades de moradia, trabalho ou comércio, tem em Brasília o exemplo máximo no mundo inteiro. Aprendemos com isso?

O país ainda não sabe, hoje, como foi e como tem sido equivocada a ideia do zoneamento funcional. A síntese do contrassenso desse modelo funcional - que eu gosto de citar quase de maneira anedótica - é o setor hoteleiro de Brasília. Não se pode ter ideia mais maluca: colocar todos os hotéis da cidade num mesmo lugar. Então, Brasília é só o lado monumental. É inorgânica. Falta-lhe a escala do cotidiano.

É claro que, do ponto de vista simbólico, como cidade monumental, Brasília se sobressai. Mas é a cidade orgânica que dá sustentabilidade à cidade monumental. O modelo de separação das funções urbanas de Brasília é insustentável. Sem o pequeno comércio, sem a moradia em meio às miudezas do cotidiano, há apenas uma cidade dos edifícios públicos, dos museus, dos extensos gramados e das grandes praças.

O Rio tem condições de voltar a ter moradia no Centro?

Sim, porque tem um zoneamento de uso misto. Mas, em alguns casos, como o da Avenida Rio Branco, é praticamente impossível alguém morando nela. Suas edificações já estão tipologicamente definidas para as atividades financeira e comercial. Já a Avenida Beira Mar sempre foi de caráter residencial, mas seus edifícios converteram-se ao uso comercial. Lá, a moradia é algo que dá para ser recuperado.

Onde moram as pessoas no Centro do Rio? Moram no sistema de morros da região portuária: Morro da Conceição, Morro do Livramento, Morro da Providência, Morro do Santo Cristo, Morro do Pinto. E, para o outro lado, moram na Lapa, em Santa Teresa e naquela franja baixa de Santa Teresa, que acompanha exatamente a Rua do Riachuelo.

Quais foram as transformações na área central desde a preparação para a Olimpíada?

Há uma escala monumental da transformação, que é essa que acontece na zona portuária: novos museus, o fim da Perimetral, novo espaço público, nova Praça Mauá. Mas, há outra escala, mais afetiva e humana, que são a Praça Tiradentes, a Lapa, os negócios tradicionais, as calçadas. A gente começou a dar ênfase ao equilíbrio entre escala monumental e a escala do cotidiano. Então, de certa maneira, a totalidade daquilo que a gente entende sobre cidade foi trabalhada na administração Eduardo Paes.

Você tem o lado monumental da cidade, com o Porto Maravilha, o Museu do Amanhã, a Praça Mauá. Há o lado vernacular, que também precisa ser trabalhado. O vernacular é a vida do dia a dia, a vida comum, o pequeno comércio, o movimento nas calçadas. São as pessoas nos espaços públicos. Muitas vezes, as administrações se equivocam. Vou fazer só o monumental, ou vou fazer só vernacular. A cidade precisa que as duas escalas sejam bem tratadas.

De que serve o monumental na equação urbanística?

O monumental tem essa capacidade simbólica de criar significado para a sociedade inteira. Então, veja a visitação ao Museu do Amanhã, por exemplo. É muita gente oriunda de outros municípios da Baixada Fluminense e da região metropolitana. Doze por cento dos visitantes nunca tinham ido a um museu.

É o museu mais visitado do Brasil: desde a sua inauguração, em dezembro de 2015, um milhão e quinhentas mil pessoas. Então, esse é o sentido simbólico do monumental, fazendo com com que toda a sociedade queira estar junto naquele lugar. Mas, volto ao ponto: não se pode negligenciar o vernacular, a vida comum, a escala do cotidiano: como é que estão as calçadas, se a cidade está limpa, se está ordenada, iluminada, se o patrimônio está bem cuidado.

Quando é que esse Centro do Rio começou a ser novamente visitado pela população em geral?

Foi a partir do momento em que se inaugurou a Praça Mauá (em 6 de setembro de 2015), deixando claro para a população que as obras iriam ser realmente concluídas, o que desmontou o tradicional ceticismo em relação às anunciadas ações de governo. Começa, então, o fenômeno da visitação dos fins de semana. O Museu de Arte do Rio (MAR), já estava aberto. Inaugurou-se o Museu do Amanhã.

A orla foi ocupada pelos pedestres, pelas famílias, trazendo à tona uma característica muito carioca, que é o prazer de usufruir do espaço público. Deflagrou-se um processo de revitalização, cujo ponto culminante ocorreu na Olimpíada. Naquele período, o Boulevard Olímpico recebeu, em 17 dias, quatro milhões de visitantes. Isso consolidou a nova imagem da região central.

A revitalização do Centro está consolidada?

O que está consolidada é a percepção de que existe um novo Centro. Mas, a pergunta talvez seja: já é sustentável? Acho que ainda não. Por que não é sustentável ainda? Porque precisamos reocupar a região do Centro com uma população residente. Como eu disse antes, é praticamente impossível colocar gente morando na Avenida Rio Branco, porque seus edifícios estão tipologicamente definidos para fins comerciais.

O mesmo ocorre com as avenidas Chile e Almirante Barroso, que foram abertas para serem lugares institucionais, de empresas. Mas tem muito mais potencial de moradia, sem sombra de dúvida, na área do porto, na região da Cruz Vermelha, na região da Lapa que está para a Glória (Avenida Beira Mar). Dá para se imaginar gente morando na Cinelândia. Se se pegar o trecho que vai da nova orla até à Rua Primeiro de Março, pode se enxergar um potencial de moradias.

A Gomes Freire, que é uma magnífica rua do Centro do Rio, muito bem arborizada, está preparada para ter o retorno ao uso residencial. Da mesma maneira, as ruas por onde hoje passam o BRT, que vão da Rua da Constituição à Sete de Setembro. É preciso, a partir de agora, romper os gargalos, fazendo com que essa ocupação residencial efetivamente aconteça. Para que o Centro histórico seja sustentável, precisamos de pessoas.

Com gente morando, vamos ter o comércio funcionando, vamos ter bares, restaurantes, cafés, padarias, lojas diversas. É olhar para o Centro um pouco como se fosse um bairro.

O que é preciso para que, de fato, as pessoas voltem a morar ao Centro?
Tem de se acabar com a ociosidade dos imóveis. Há muitos imóveis vazios. Combater o abandono de imóveis é uma agenda muito difícil. O gestor público carece de ferramentas para mudar isso. Esta é uma matéria que está em poder das secretarias da Habitação, cujo comando é político. Então, essa agenda não anda. Defendo o ponto de vista de que se tenham, no Brasil, agências de habitação social. Funcionariam como uma empresa pública, atuando como um empreendedor imobiliário público.

Há, internacionalmente, exemplos de agências que funcionam deste modo?

A autoridade pública de habitação social de Nova York completou 80 anos. Então, as cidades mais caras do mundo têm políticas de locação social: Paris, Londres, Nova York, Zurique, Viena. Estive com urbanistas de Viena, que estudavam a possibilidade de se permitir o aumento dos gabaritos dos prédios, cujos limites lá são muito controlados, para que neles haja habitação social.

O que falta para o Brasil se acertar nessas pautas, como a de ter cidades amigáveis ao cidadão, com as pessoas morando perto de onde estudam e trabalham?
O que tem que se entender é que a agenda estratégica brasileira é, hoje, a agenda urbana. O país avançou muito na agenda econômica, com o Plano Real.

Depois, avançou muito na agenda social. Agora, tem de ser a agenda urbana. Um enorme contingente populacional experimentou um novo padrão de consumo. Aprendeu que se não era bem atendido em um voo, poderia mudar de companhia aérea. Se a pessoa se sentia maltratada em um restaurante, não voltava mais lá. Mas quando pega o ônibus, enfrenta todos os dias um transporte público que é ruim.

E não tem condições de dizer que não vai mais pegar aquele ônibus. Tem de ir naquele mesmo. Os serviços e bens públicos não deixam a opção que se tem nos serviços e bens privados. Qual é a situação que fica clara a partir de 2013, com os movimentos que precederam à Copa das Confederações, com o povo na rua reclamando? A gente quer serviço padrão Fifa, a gente quer transporte padrão Fifa.

A mensagem pra mim é claríssima. A sociedade brasileira já estava dizendo: olha, nós melhoramos, mas as cidades continuam a nos tratar mal. A classe política está completamente atrasada para reconhecer o papel do urbanismo na melhoria da vida dos brasileiros. Isso é consequência, infelizmente, desse simulacro que Brasília cria, colocando nossa classe política em um Shangri-La, afastado da vida real das pessoas.

De onde vem o nosso descompasso entre a promessa do grandioso e a precariedade da vida real?

Com todo o respeito a Juscelino Kubistchek, ele deixou muito marcada essa percepção de que a gente sempre vai resolver 50 anos em 5. Assim ficou, no nosso imaginário, a concepção de que nossas cidades vão melhorar com as grandes obras. A gente tem o sentimento de que algo vindo de fora e do alto é que vai resolver as nossas vidas. O que vai melhorar as nossas vidas cotidianas é o cuidado com as miudezas. O que eu falo sobre o Centro da cidade aplica-se, integralmente, às periferias.

A pessoa sai de sua casa, na favela, e tem uma caminhada difícil até pegar o transporte, o que leva tempo. Esse tempo tem de ser tratado como um bem valiosíssimo. É o tempo da caminhada, da espera pelo ônibus, da refeição, de levar o filho à escola ou ao posto de saúde. Precisamos repensar e remontar essa cidade. A gente não remonta a cidade somente com o obrão. A grande obra ajuda na coisa monumental.

A Praça Mauá ajuda nesse aspecto cívico, amplo, de nos reunirmos no espaço público. Mas é preciso cuidar da cidade do cotidiano. É esta a agenda prioritária. Precisamos colocar em prática, logo, uma política habitacional que possibilite às pessoas esteram juntas na cidade. O tema da habitação social inexiste na política brasileira. O Minha Casa Minha Vida é uma bomba relógio urbanística, porque produz habitação de baixa qualidade lá longe, na periferia. A solução é fazer com que a pessoa possa estar próxima do trabalho dela.

O que poderia ser feito na pequena escala que se contraporia a esse antigo modelo das soluções de atacado?

Há, como eu disse, autoridades públicas cuidando da habitação social em Nova York e em várias cidades europeias. É impressionante que também existam, em muitos países desenvolvidos, linhas de crédito para se resolver problemas específicos nas moradias. No Reino Unido, por exemplo, existem linhas de crédito para uma série de necessidades domésticas, como trocar o aquecedor ou melhorar o telhado. Se você cria inovações, no setor público brasileiro, corre sérios riscos.

A inovação é, entre nós, entendida como uma ilegalidade. A política pública brasileira é produzida de maneira fordista. Em 2013, ousamos fazer algo inédito no país, que foi criar o único edital, no país, de ajuda ao dono do imóvel privado com recursos públicos. Ele se chama Pró-Apac (Programa de Apoio à Conservação do Patrimônio Cultural). Demoramos três anos para implantá-lo.

A gente trabalha com uma espada sobre a cabeça. Em 2014, ganhamos até um prêmio do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Com recursos públicos, o Pró-Apac patrocina, depois de uma seleção de projetos apresentados, para os imóveis particulares preservados ou tombados, com as seguintes destinações: fachada, telhado, instalações prediais básicas (água, esgoto, rede elétrica), problemas estruturais e acessibilidade. A gente investiu R$ 7,3 milhões. Foram dois editais. Apoiamos 26 imóveis.

Poderia citar um exemplo de melhoria realizada?

Uma senhora morava num prédio histórico no Centro. Ela não saia de casa porque não conseguia mais subir as escadas. Alguém imagina que o condomínio terá dinheiro para colocar o elevador? Aquela senhora vai embora do prédio? E, assim, o elevador foi instalado. Na Rua Moraes e Vale, na Lapa, apoiamos dois imóveis.

O que acontece é que, por conta própria, oito imóveis foram recuperados, com recursos dos proprietários. A melhoria em um imóvel gera um ciclo virtuoso. O sujeito passou lá e viu o imóvel restaurado: “Nossa! Aqui tem uma casa bonita. Vou comprar um imóvel nesta rua”.

Há possibilidade de se fazer isso nacionalmente?

Claro que sim. O que falta, em Brasília, é gente capaz de lidar com esses universos cheios de nuances, que existem nas cidades. Se você olha os editais de uma Lei Rouanet são milhões e milhões. Mas, se você oferece R$ 100 mil, o sujeito resolve a fachada de um prédio histórico. Isto faz parte da agenda urbana. Esta não é uma agenda utópica.

É muito concreta. Há, nas cidades, uma microeconomia riquíssima que não é colocada nas políticas nacionais de desenvolvimento. Um botequim não é um cisco econômico, não é uma bobagem econômica. Um botequim, um restaurante, um café, uma padaria estão no ecossistema de pequenos e médios negócios urbanos que são poderosíssimos para produzir empregabilidade, acesso ao primeiro emprego, ambientes mais seguros, vivos, visitáveis. E a gente não fala disso, a gente não trata disso.

O que é necessário fazer para que se valorize a compreensão geral sobre o valor dos pequenos e médios negócios?

Vou exemplificar com um fato ocorrido há seis anos. Em 2011, houve o fechamento de um bar centenário no Centro do Rio. Pensei com os meus botões: não é possível a gente perder um bar histórico, assim, como se não fosse nada. Foi daí que, em dezembro daquele ano, realizamos o 1º Seminário Internacional do Bar Tradicional, que ocorreu, durante dois dias, na Gafieira Estudantina, na Praça Tiradentes.

Veio uma pessoa do governo inglês, que falou dos esforços para se preservar os pubs. Vieram, ainda, um representante do governo alemão, para falar das cervejarias, a Bierhaus, e um consultor argentino, para falar dos boliches de Buenos Aires, que estavam fechando. Estavam presentes os jornalistas e escritores Ruy Castro e Sergio Cabral, e o chargista Jaguar.

A partir dos bares, fizemos uma pesquisa dos negócios tradicionais, que são muitos no Rio. Entre eles, a Leiteria Mineira, a Confeitaria Colombo, o restaurante Ciradinha, a sorveteria Chaika. Uma equipe de sociólogos e antropólogos percorreu as ruas do Rio. Esses lugares são importantíssimos na vida e na memória da cidade. Os cariocas levam a eles os filhos, mostrando-lhes que eram frequentados por seus avós e bisavós. Este é o lastro das riquíssimas microeconomias urbanas do país inteiro. O Rio é um grande exemplo disso.

A habitação social e os imóveis ociosos

Um dos mais recentes e intrincados trabalhos de Washington Fajardo, à frente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, foi executar a primeira etapa do levantamento dos imóveis vazios no Centro. Ele disse esperar que o levantamento continue, inclusive porque vinha sendo feito, inusitadamente, de “forma integrada”, em parceria com o Sinduscom Rio, a Procuradoria Municipal e o Instituto Pereira Passos. O procedimento integrado, como assegurou, é inédito.

Há imóveis vazios pertencentes à União, ao Estado, ao município e a ordens religiosas. Existem também os imóveis privados. Vários deles tiveram a “cadeia sucessória rompida” e a titularidade precisa ser recomposta. “É um procedimento cartorial pesado, chatíssimo. A atuação da Procuradoria Municipal é magnífica, decisiva”. Fajardo inclui o rastreamento dos imóveis ociosos, nas cidades brasileiras, entre os pontos prioritários de uma agenda nacional voltada à qualificação da vida urbana, com ênfase para a habitação social nas áreas centrais. “A gente precisa convocar os advogados para essa agenda urbana”, disse ele.

*Entrevista exclusiva para a revista Bares & Restaurantes em fevereiro de 2017

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