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Por Danilo Viegas

Com cena gastronômica diversa, uma das cidades mais visitadas do país se reinventa como um destino turístico que vai além das cataratas do Iguaçu ou de compras no Paraguai

“Antes as pessoas só passavam por aqui. O dinheiro ficava no Paraguai e o lixo em Foz do Iguaçu”. A frase, dita por vários empreendedores da cidade soa até como discurso ensaiado, mas revela um tom uníssono de quem por anos ansiava por mudanças. E elas vieram.

Uma das cidades mais visitadas do Brasil se reinventou como um destino turístico que vai além das majestosas Cataratas do Iguaçu e de compras na Argentina e ou no Paraguai.

Quem hoje visita Foz se depara com uma cidade madura para o turismo, onde a qualidade de vida dos moradores se reflete também nas opções turísticas, com uma imensidão de opções quando o assunto é bar ou restaurante. Há cardápio para todos os gostos e bolsos, hotéis cada vez mais estruturados e opções de lazer que ligam cultura à gastronomia.

O crescente diálogo entre a iniciativa privada, entidades do terceiro setor como a Abrasel e o Visit Iguassu, e o poder público deu certo e o resultado é visível no balé das calçadas; ruas vivas, comércio pujante, serviços com qualidade e qualidade de vida para quem vive na cidade e também para quem está de visita.

“Desde a pandemia, muitos estrangeiros ainda não voltaram a visitar Foz, mas replanejamos nossa estratégia e hoje estamos focados em atender turistas que moram em até 600km daqui”, diz Paulo Souza, o Gaúcho, proprietário da Churrascaria do Gaúcho e presidente da Abrasel no Oeste do Paraná, confiante na retomada e na transformação de Foz do Iguaçu.

“A construção da nova ponte que liga o Brasil ao Paraguai, a inauguração da imensa roda gigante ao lado do Marco das 3 Fronteiras, as já tradicionais atrações que vão além das nossas belezas naturais, tudo isso reforça o quanto a cidade está se capacitando cada vez mais. Se antes uma família vinha até aqui e visitava tudo em duas noites, hoje pode ficar uma semana e ainda ir embora deixando de conferir uma coisa ou outra”, afirma.

Energia que vem da natureza

Responsável por cerca de 10% da geração de energia consumida no Brasil, a colossal hidrelétrica Itaipu é parceira também no desenvolvimento da região onde está.

Há uma série de ações estratégicas da Itaipu para promover o desenvolvimento regional, como prevê a missão da empresa. Nos últimos dois anos, houve o redirecionamento de mais de R$ 2,5 bilhões para investimentos em mais de 30 obras estruturantes, com a geração de mais de 2,5 mil empregos.

A maior parte desses aportes da Itaipu está sendo investida em Foz do Iguaçu, que é a cidade-sede da hidrelétrica, na margem brasileira da usina. O pacote de investimentos inclui a Ponte da Integração Brasil - Paraguai, a Perimetral Leste, a reforma do Aeroporto Internacional, a duplicação da Rodovia das Cataratas, a construção do Mercado Público e também de ciclovias, pistas de caminhadas e melhorias de paisagismo. Ações que fazem de Foz uma cidade boa para se viver, mas ainda não tão simples para empreender, mesmo que os desafios estejam sendo vencidos.

“Km 0” ou “fim da linha”?

Foz do Iguaçu é uma das “mercocidades” brasileiras. Juntamente da cidade paraguaia de Ciudad del Este e da argentina Puerto Iguazú, formam uma área urbana conhecida na região como Tríplice Fronteira, sendo caracterizadas portanto como Tri-Cidades. Essa característica é visível na cultura de Foz, alimentada por esse intercâmbio que deságua na cidade em suas várias vertentes: cultura, econômica, trabalhista, gastronômica.

Este último ponto merece intensa consideração, pois é cercada de oportunidades e desafios. Um deles é o “quilômetro zero”. Esta ideia, nascida na Itália, fundiu-se agora com a noção, também originada lá, do Slow Food (que se contrapõe completamente ao monopólio ocidental das fast foods), tornando-se a coqueluche do momento entre os chefs.

A união desses conceitos visa resgatar toda a imensa diversidade da culinária global que vem se perdendo e, ainda, fazer uma releitura das cozinhas regionais, ampliando mais esta diversidade. O movimento poderá causar, em longo prazo, uma revolução virtuosa na alimentação mundial e desacelerar a massificação que assola o mundo nesse setor.

Foto: O restaurante Quinta da Vó Lili, inaugurado em dezembro, é um exemplo de novas casas que procuram resgatar os sabores autênticos da nossa cozinha, com ingredientes frescos do campo. Divulgação/Vision Art Producoes

A motivação principal do Km 0 é solidarizar-se com o que é próximo; os gêneros alimentícios produzidos mais perto do consumidor e, portanto, mais ligados à cultura e história local. Seria, então, possível devolver às pessoas a chance de optar pelo que lhes é regional, numa valorização de suas próprias raízes.

Imagine um mundo moderno em que se preserve e resgate as antigas receitas, ingredientes artesanais e saudáveis de todos os países e cantos, onde chefs criariam novos pratos e sabores com produtos regionais.

O patrimônio das culturas seria preservado, a diversidade da agricultura mantida, o meio ambiente menos agredido, a microeconomia fortalecida e haveria muito menos problemas relacionados à saúde causados por má alimentação. O ganho é colossal.

Mas então como fazer com que o conceito do “KM 0” saia do marketing e ganha vida em uma cidade que está a 643 km de distância de Curitiba, a capital do estado, e na fronteira com outros dois países? Vencer esse desafio é parte da missão do chef Tyales Veiga, do hotel San Juan Eco. “A meta é conseguirmos um produto mais fresco que vá de maneira mais rápida do campo à mesa do cliente”, diz.

E como fazer isso na prática? “Conhecer as particularidades de cada temporada é uma das maneiras. Aqui em Foz por exemplo trabalhar com farinhas que são de moinhos a menos de 60km, conhecemos o ciclo dos grãos porque estamos perto. Se fortalecermos a agricultura familiar, fortalecemos também a economia local. Temos aqui por exemplos produtores de peixe a 1km em linha reta do hotel.

Se eu pedir um peixe às cinco da tarde ele pode estar chegando na minha cozinha às 19h. Isso é incrível e deve ser apresentado ao consumidor de uma forma sedutora, para que ele conheça as riquezas da região e saia de cardápios clichês.

Foz é onde dezenas de etnias se encontram e com isso certeza isso deve ser traduzido na nossa gastronomia, cada vez mais rica”, completa. Para o empresário Luiz Moreira, proprietário da trattoria La Strega, no centro de Foz do Iguaçu, o desafio é ainda maior.

Com uma rica gastronomia internacional que vai de massas aos frutos do mar, ele tem dificuldades em certos insumos. “O bacalhau, por exemplo, compro do Mercado Público de São Paulo. “É um pouco mais caro? É, mas sei que vou receber semanalmente na qualidade que meu cliente merece”, diz.

Ele, assim como outros empresários ouvidos pela reportagem, relata dificuldades no empreender que vão além da burocracia. É o que alguns chamam de “fim da linha”, já que geograficamente a cidade fica nos limites do Brasil, o que dificulta a chegada de insumos pelas estradas, que passam por outros pontos antes de chegar em Foz do Iguaçu.

Se há uma distância ‘cruel’ com outras metrópoles brasileiras o intercâmbio com cidades argentinas e paraguaias tem lá seus benefícios. Luiz sabe muito bem disso. Os vinhos argentinos, por exemplo, funcionam como uma espécie de ‘camisa 10’ no cardápio do La Strega, harmonizam com os pratos e ajudam a aumentar o faturamento da casa.

“É visível que a gastronomia de Foz evoluiu nos últimos 10, 15 anos. Hoje as pessoas não precisam atravessar a fronteira para degustarem pratos sofisticados a preços justos, mas obviamente elas querem comodidade. É isso que também entregamos aos nossos clientes”, finaliza.

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