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A Abrasel nasceu, há 35 anos, sob o signo da inclusão. Ainda engatinhando, os seus primeiros movimentos iam em direção aos restaurantes chiques e às sofisticadas casas noturnas. Mas, logo que começou a caminhar, viu-se ainda mais atraída pelos estabelecimentos de portas abertas às calçadas. Tornou-se uma rede com 54 seccionais e regionais, espalhadas nas 27 unidades da Federação. Ficou conhecida como a voz das ruas do Brasil.

Portanto, a Abrasel representa, indistintamente, os mais luxuosos restaurantes, situados nas avenidas dos centros financeiros, e os modestíssimos barzinhos das mais remotas periferias urbanas. Somos inclusivos. Trata-se de um posicionamento de raízes profundas. A acentuada desigualdade é o problema número um do Brasil. Somos a quinta nação em território, a décima-terceira no PIB (já fomos a sexta), e a oitava em desigualdade, sendo que, neste quesito, somos superados pelos mais empobrecidos países do continente africano.

Em 1986, quando a Abrasel veio à luz, 84% dos brasileiros moravam na cidade. Hoje, a taxa de urbanização está se aproximando de 90%. Só não temos um dado estatístico mais preciso porque o censo demográfico deixou de ser realizado em 2020. É do conhecimento geral, porém, que 30% dos brasileiros a duras penas vivem na pobreza e na extrema pobreza. Eles moram nas 5,57 mil cidades do país, que, no seu conjunto, formam o retrato das desigualdades no país.

A cidade que mais espelha os contrastes e as esperanças de um Brasil melhor é o Rio de Janeiro. É lá que conselheiros e integrantes das diretorias do mundo Abrasel marcaram um encontro, na segunda quinzena de julho, para brindar os 35 anos da nossa entidade. A programação contempla reuniões de reflexões estratégicas e muitas incursões aos encantos mil das gentes e dos cenários cariocas.

Queremos, ao vivo e em cores, captar e elaborar um pouco das alegrias e dores que permeiam o cotidiano da Cidade Maravilhosa. Isso por que os sentimentos da população do Rio são os mesmos que estão nos corações e nas mentes dos brasileiros. Compartilhamos com o que expressou Caetano Veloso em sua postagem na rede social. Escreveu ele sobre o Rio de Janeiro: “Há uma angústia instalada na cidade. O Rio é a cidade dos brasileiros. Tudo o que acontece com o Rio afeta a totalidade do Brasil, e, de alguma maneira, expressa o que o Brasil tem a dizer”.

O cerne desse desconforto emocional, identificado por Caetano Veloso no Rio, estende-se a todos os brasileiros. A segregação é, sobretudo, territorial. Os pobres, os negros e todos os demais discriminados habitam a demarcada geografia do “apartheid” brasileiro. Ela é visualmente reconhecível, pois está desprovida de infraestrutura. Nesses territórios da vulnerabilidade faltam ruas pavimentadas, coleta de lixo, redes de água e esgoto, iluminação pública e transporte coletivo.

As cidades precisam, indistintamente, ser estruturadas no jeito Abrasel de ser. Temos de fazer do Brasil um país só, não mais separado por dois países urbanos, que são o da parte da cidade formalmente reconhecida, e o da outra parte, o da cidade discriminada. Este princípio está entranhado na nossa entidade, que, em 2015, lançou o manifesto “A partir das ruas, simplifica Brasil”. O primeiro a aderir ao manifesto foi o arquiteto Jaime Lerner, que faleceu no último dia 27 de maio.

Em nosso encontro, às vésperas do lançamento do manifesto, ele me disse que era preciso somar o urbanismo total com o mais ativo empreendedorismo. Chegou até a propor, em certa época, que se criasse a zona franca das favelas, com vistas a se simplificar e fomentar o empreendedorismo. Na sua e na nossa visão, o empreendedorismo é um vetor de redução da pobreza e de ampliação da classe média. Outro sonho dele: um dia, queria ser prefeito do Rio. A cidade inclusiva foi a sua causa maior. Um propósito que, a seu ver, teria no Rio uma poderosa alavanca nacional. É o que também a gente pensa.

*Paulo Solmucci é presidente-executivo da Abrasel

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