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"Ele gostava de vir e ficar olhando para o desenho", revela Chico, dono do bar Balcão

Obra está exposta no bar desde sua inauguração. Imagem: Arquivo Pessoal Miguel Icassati

Diferentemente de alguns amigos, conforme pude ver agora de manhã no instagram, não fui entrevistado por Jô Soares em seus célebres Jô Soares Onze e Meia, no SBT, e Programa do Jô, na Globo, mas tive o privilégio de entrevistá-lo em 2006.

Foi exatamente no dia 22 de maio, dia de Santa Rita, da qual ele era devoto e, inclusive, me confirmou naquele dia, frequentador da igreja no bairro do Pari. Na época, Jô estava prestes a estrear a peça Ricardo III, no Teatro Faap. Era a retomada da conexão de Jô com o teatro, depois de muitos anos. Nessa montagem do texto de Shakespeare, ele dirigiu Marco Ricca, Denise Fraga, Glória Menezes e outros doze atores.

Como se diz no jargão jornalístico, a peça foi o "gancho" para uma reportagem para o Guia, suplemento do Estadão, na qual eu mostrava a relação de Jô com a cidade de São Paulo, os restaurantes, bares, lugares que frequentava e tal. Jô me recebeu na enorme sala que mantinha no térreo do edifício-sede da TV Globo em São Paulo, no bairro do Brooklin.

Na pesquisa prévia que fiz a respeito dele, pude ter um pouco de sua dimensão como artista. Chamei-o de renascentista, por perceber que era muitos Jôs ao mesmo tempo: comediante, escritor, apresentador, one man show, ator, diretor de teatro e pintor. Sim, pintor. Tanto é que dividiu uma casa de vila na Avenida Brigadeiro Luis Antônio, nos anos 1960.

Não foi por acaso, então, que, entre outras façanhas, Jô Soares expôs na 9ª Bienal de Arte de São Paulo, em 1967, mesmo ano em que pintou um quadro que repousa, desde 1994, em uma das paredes do Bar Balcão, em São Paulo.

Na mesma parede há uma tela de Aguilar e na parede à direita figura a magnética gravura "Wallpaper With Blue Floor Interior". Com 2,59 de altura por 3,86 de largura, é uma autenticíssima pop art de Roy Lichtenstein (1923-1997).

Foi pintada em 1992 e carrega o número 191 de uma série de 300 unidades. Chico Millan, um dos sócios do bar e cuja família é ligada às artes plásticas, comprou-a em Los Angeles e instalou-a no Balcão em 1997 ou 1998, ele não se lembra ao certo.

O curioso é que no mesmo ano de 1967 e durante uma passagem por Nova York, Jô Soares, então com 29 anos, procurou o nome de Lichtenstein na lista telefônica local, encontrou, telefonou e foi conhecer o artista nova-iorquino no estúdio dele localizado no SoHo, região sul de Manhattan.

Chico Millan não se lembra em que ano o quadro de Jô foi comprado por seu pai mas se recorda de ter recebido o artista algumas vezes no bar. "Ele gostava de vir e ficar olhando para o desenho", disse-me Chico, que mantém a tela no Balcão desde a inauguração do bar. No verso da tela o correr do tempo apagou o nome da obra, que, segundo Chico, é algo como "Com o coração olhando para a lua".

Jô Soares, que raramente dormia antes das 4 da manhã, conforme me contou naquela entrevista em 2006, morreu às 2h20 de hoje. No instagram, sua ex-mulher, Flavia, relembra os 60 anos de carreira do companheiro, e pede àqueles "que tenham se divertido com seus personagens, repetido seus bordões, sorrido com a inteligência afiada desse vocacionado comediante, celebrem, façam um brinde à sua vida".

Eu fui um deles e vou brindar ao imortal Jô no Balcão.

Vai lá >> Bar Balcão. Rua Melo Alves, 150, Jardim Paulista, tel. 3063-6091.

Fonte: Uol

*Miguel Icassatti é Jornalista, comunicador e empreendedor com 23 anos de experiência. Atualmente colunista do Uol.

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