Para Amir Nahai, CEO Global de Alimentos e Bebidas de Accor, hotéis devem tirar proveito da tendência e criar suas próprias marcas de delivery
Para sobreviver, restaurantes e bares de hotéis devem tirar proveito da onda do delivery”, diz Amir Nahai, CEO global de alimentos e bebidas da rede francesa Accor, líder no mercado de hotelaria no Brasil. Na sua opinião, os hotéis devem criar marcas próprias de delivery, capazes de concorrer com as empresas que estão inovando no setor, como Uber Eats e a britânica Deliveroo. "É preciso se reinventar para se manter forte no setor. Gosto de pensar que o que nós fazemos não é Alimentação e Bebidas em hotéis. Estamos criando grandes bares e restaurantes, só isso."
De passagem pelo Brasil para a Feira Fispal Food Service, Amir conversou com Época NEGÓCIOS sobre as maiores tendências do setor de Alimentos e Bebidas para hotéis, no Brasil e no mundo. “O Brasil está na linha de frente da inovação no setor de Alimentos e Bebidas. Isso acontece em parte pela necessidade de ir atrás do público local. O país fez isso primeiro e armou o palco para focarmos nos públicos locais no mundo todo.”
Uma das grandes apostas do grupo neste ano é a abertura de um novo hotel de luxo no Rio. Até o final do ano, a cidade carioca receberá o primeiro hotel da bandeira canadense Fairmont da América do Sul. A proposta é dar ao hotel um clima carioca, com arquitetura inspirada no Rio de Janeiro dos anos 1950 e 1960. “Vamos tentar capturar o espírito carioca também em nossos bares e restaurantes. E vamos trazer um dos melhores bartenders do mundo para trabalhar lá.”
Leia a seguir os principais trechos da conversa.
Até que ponto o desempenho do setor de Alimentos e Bebidas é decisivo para a rede Accor?
Um terço da receita do grupo vem do setor, que emprega 8 mil funcionários. Mas, para além dos números, o setor de Alimentos e Bebidas tem uma importância estratégica para nós. Hoje em dia, bares e restaurantes são fundamentais na hora do viajante escolher um hotel. Os turistas querem frequentar um lugar onde haja diversão, energia, drinques memoráveis e a melhor comida da cidade. Temos que dar experiência. Temos que entregar valor. Por isso passamos por um processo de reinvenção nos últimos três anos.
Como foi essa reinvenção?
A maior mudança foi a maneira como geramos inovação. Antigamente, os conceitos eram criados em Paris e mandados para o mundo todo, e os hotéis simplesmente executavam. Paramos de fazer isso. Hoje, todas as decisões são tomadas pelos times locais. Eles são responsáveis pela inovação. Nós apenas damos as diretrizes, e os deixamos livres para criar. E quando eu vejo coisas que funcionam muito bem em uma região, eu levo para mais cidades, onde acho que pode funcionar também. Outra mudança essencial foi perceber que ser bom de hotel não é o mesmo que ser bom em alimentação. É preciso investir nessa expertise.
A prioridade é ter ótimos bares e restaurantes para atrair hóspedes? Ou ter atrações de qualidade para conquistar o público local?
As duas coisas. O que eu sempre digo é: criem bares e restaurantes excelentes para atrair o público local. São as pessoas que moram na cidade que vão deixar o lugar vibrante, interessante, único. E daí, se os locais adotarem o restaurante, os viajantes também vão adorar. Pense bem: quando viaja, tudo que você quer é ir em lugares frequentados pelos locais, certo? Então essa é a receita. Gosto de pensar que o que nós fazemos não é Alimentação e Bebidas em hotéis. Estamos criando grandes bares e restaurantes, só isso.
Como as grandes tendências do setor afetam os hotéis? Vocês foram impactados pela onda de delivery, por exemplo?
O impacto do delivery foi enorme em toda a indústria. O delivery redefiniu a maneira como as pessoas comem. Afetou supermercados, restaurantes e também os hotéis. Veja bem, se posso pegar o telefone e pedir comida de ótima qualidade para entrega onde eu estiver, por um preço acessível, para que ir a um restaurante? E o mercado vai ficar ainda mais competitivo, porque agora as empresas de delivery, como a Uber Eats, estão criando suas próprias cozinhas, chamando donos de restaurantes para cozinhar nelas, e vendendo diretamente ao cliente. Isso já é tendência em Londres e Paris, e também tende a crescer no Brasil.
Qual a melhor estratégia para lidar com esse movimento?
Na minha visão, o único jeito de sobreviver é deixar nossos bares e restaurantes tão bons que, mesmo tendo a opção do delivery, o hóspede vai pensar, ‘eu quero descer e me divertir no restaurante do hotel, onde o clima é gostoso, as pessoas são interessantes e a comida é ótima’. Outra saída para o setor hoteleiro é tirar proveito das plataformas de delivery. É isso que estamos fazendo. Nós temos cozinhas localizadas estrategicamente nas áreas centrais de grandes cidades. Por que não usar isso e passar a atender no modelo delivery? Já estamos fazendo isso em alguns restaurantes dos Estados Unidos, Europa e Brasil [Ibis Expo Barra Funda e QueCeviche]. Mas o que eu realmente quero é criar marcas exclusivas nos nossos hotéis, só para delivery.
Primeiro foi o Airbnb, agora as empresas de delivery. Até que ponto esse tipo de concorrência força a inovação nas grandes empresas?
Na minha opinião pessoal, o impacto do Airbnb na indústria hoteleira foi extremamente positivo. Porque nos forçou a acordar, a melhorar nossos produtos e serviços, a entregar mais valor. Foi uma ameaça no começo? Com certeza. Mas, para mim, foi positivo. E tenho total confiança no papel dos hotéis no futuro, lado a lado das habitações compartilhadas. Os viajantes vão usar os dois, vai haver um pouco de canibalização, claro, mas sempre haverá público para hoteis confiáveis, especialmente no mundo incerto que vivemos hoje. As pessoas querem confiabilidade e segurança, e nós proporcionamos isso.